sábado, 21 de novembro de 2015

CAPÍTULO 15- TODOS QUEREM ENSINAR ALGO QUE NINGUÉM PODE APRENDER

Empreendedorismo não se ensina, mas o que se aprende em "empreendedorismo" é fundamental.



Olá, criaturinha sublunar! Imagine a seguinte cena: pode ser num picadeiro ou na cozinha do seu humilde bangalô. Você fez um daqueles cursos de culinária. Caríssimo! Seu professor — fresco & arejado — ensinou-lhe todos os macetes da culinária ocidental, oriental, universal e de outras partes do cosmos. Até seu leite fervido agora é gourmet. Você convidou seus miguxos para almoçar na sua casa. Como entrada, você vai preparar alguma gororoba impronùnciável ao molho de arenque; e como sobremesa, você vai fazer outra gororoba igualmente esquisita, mas com passas ao rum. ¿Os melhores ingredientes disponíveis? — confere! ¿A receita posta à altura dos olhos? — confere! ¿Tudo pronto? Beleza! Minutos depois, sua coninha está imunda; há arenque até na saboneteira... e você está diante duma meleca que nem o totó aceita comer. Cachorro do Satanás!

¿O que deu errado, ó criança? ¿Por que os máster-bláster chefes-de-cozinha da televisão conseguem fazer aquilo e você nunca conseguirá? Resposta: eles têm uma coisinha chamada conhecimento incorporado. "Vade-retro!" Calma. Deixa eu explicar: existem dois tipos de conhecimento: 1) o explícito ou codificado, que está nos livros, cursos, artigos, patentes, manuais e naquela receita que você tentou seguir; e 2) o conhecimento incorporado, que corresponde às habilidades, manhas, técnicas, segredos, paranauês, ziriguiduns, telecotecos & balacobacos dos profissionais experientes. Apenas a primeira modalidade de conhecimento é transmissível pelos métodos clássicos de ensino. Já a segunda — justamente aquela que é responsável pela diferença brutal entre o trabalho dum amador e o trabalho dum profissional — não se pode transmitir tão fàcilmente.

Quer dizer: pode sim, mas não pelos métodos escolares clássicos. O mesmo se dá com atividades artísticas que são parentes distantes da culinária. Se o próprio Beethoven baixasse num terreiro de umbanda — imagine! — e lhe desse aulas de piano por meses a fio, isto não-necessàriamente o tornaria um concertista excepcional. A lista de exemplos pode se estender ao infinito. A coisa se complica ainda-mais quando notamos que algumas pessoas têm a vocação (sentem-se chamadas para fazer aquilo), mas não têm o talento (não conseguem desenvolver suas habilidades); ou têm o talento, mas não têm a vocação — o que é ainda mais triste. Inclino-me a concluir, portanto, que as habilidades necessárias ao empreendedor são do tipo incorporado: elas não podem ser ensinadas em cartilhas. Mas então, ¿o que se ensina nas disciplinas de empreendedorismo?

A febre-tifóide do empreendedorismo e das microempresas fez pipocar na década passada uma multidão de disciplinas, workshops, métodos, livros e cursos supostamente ensinando malabarismos para quem quisesse se transformar no próximo Steve Jobs. Mas muita calma nessa hora! Certamente há oportunistas e estelionatários em toda parte — sobretudo quando há promessas e dinheiro envolvidos. Mas a esmagadora maioria dos profissionais que eu conheço no meio empreendedor são pessoas honestas, competentes, qualificadas e comprometidas. Porém, o que essas pessoas ensinam em seus cursos não é, de maneira nenhuma, empreendedorismo; é sim administração para microempresas. Não que isto não seja importante; é fundamentalmente importantíssimo! — pelas razões que eu darei a seguir. Mas entendam: isto não é empreendedorismo!

Geralmente, o que os professores de "empreendedorismo" transmitem aos seus pimpolhos é uma combinação dos seguintes elementos: 1) ferramentas e estratégias de administração adaptadas às microempresas, embora criadas para as grandes; 2) sermões e ladainhas motivacionais e/ou apocalípticas sobre oportunidades desperdiçadas, necessidades insatisfeitas, nichos de clientes, etc.; 3) análises de casos de sucesso ou de fracasso de empreendedores; 4) exercícios e dinâmicas para o despertar da criatividade e do pensamento "fora da caixa"; 5) modelos e técnicas como o mínimo produto ou serviço viáveis, o oceano azul, a startup enxuta, a inovação disruptiva, a pivotagem, etc. Repito: todos esses conhecimentos são fundamentais: eles cobrem aspectos da formação dos administradores que costumam ser negligenciados pelas universidades.  

Segundo a Agenda Estratégica das Micro e Pequenas Empresas (2011-2020), elaborada pelo SEBRAE, esses mico e pequenas empresas correspondem a 98% dos negócios existentes no Brasil. Eles são responsáveis por 21% do PIB e 52% dos empregos com carteira assinada. Além delas, temos um exército de 10,3 milhões de empreendedores na informalidade. São seis milhões de negócios empreendedores só neste país! Pois muito bem. Agora vejam: as faculdades de administração, engenharia e contabilidade continuam formando gestores para atuar nas... grandes empresas! Não é à toa que setores estranhos a essas áreas, como o bancário e o hospitalar, estejam absorvendo esses profissionais sobressalentes, ao passo que as microempresas são administradas por amadores desastrados, muitas vezes tendo de aprender na paulada o que não viram na faculdade. 

"Mas ora essa", o leitor deve dizer, "se as técnicas de gestão que eu aprendi na faculdade funcionam nas grandes empresas, ¿por que elas também não funcionariam nas microempresas?" Pois é, leitor! Aí é que está a treta: elas não funcionam ali. Eis a premissa suicida dos cursos universitários brasileiros: estamos formando profissionais para empregos que não existem mais; e as empresas existentes (98% delas, ao menos) estão sem gestores capazes. Isso ocorre porque as escalas são diferentes, as métricas são diferentes, as abordagens são diferentes, as dificuldades e os problemas enfrentados pelos empresários não são os mesmos nas grandes, médias, pequenas e microempresas. É isto o que me leva a crer que os cursos de empreendedorismo vêm desempenhando uma função até mais importante do que aquela que seus responsáveis crêem desempenhar.

Então ficamos assim: o empreendedorismo não é uma coisa que se ensina nos bancos da escola. O que as disciplinas com esse nome geralmente oferecem aos estudantes são ferramentas voltadas à criação e administração de microempresas. As faculdades, por sua vez, têm formado profissionais para grandes empresas — que são a minoria no mercado. Por sua vez, os empreendedores e microempresários acabam descobrindo, amargamente, que as teorias mirabolantes que seus professores lhes ensinaram na faculdade podem virar pó diante do terrível desafio que é gerir... um carrinho de tapioca! É aqui, então, que uma mudança drástica de escalas pode salvar o negócio. É aqui que entram aquelas ferramentas & estratégias que, erròneamente, são confundidas com o empreendedorismo em si. Mas afinal, leitor, você deve estar se perguntando ¿como poderei me tornar um empreendedor, já que isto não se ensina? Aguarde: veremos no próximo capítulo.

Até-mais-ver!

¿QUEM É JOHN GALT?

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

POSTAGEM-RELÂMPAGO 12


1- Você está perdido porque seu modelo-de-negócio tem incógnitas e variáveis em excesso e, por causa delas, você nem sabe por onde começar sua linda empresa. 

2- Você está se dando desculpas ordinárias relativas ao trabalho, à faculdade e à vida pessoal para adiar para as calendas a execução dos seus planos. Tome vergonha!

3- Olha... você até que tem uma boa idéia (ou acha que a tem), mas não sabe como fará para que ela lhe renda algum dinheiro. Afinal, dinheiro é para os fracos, né?

4- A execução dos seus lindos planos exige o domínio técnico de outras áreas que você não conhece. E você não conhece as pessoas que poderão ajudá-lo. Que pena!

5- Você é um paranóico que mantém em segredo sua idéia milionária. No fundo, seu medo não é que os outros a tomem, mas que eles lhe digam a verdade: sua idéia é tola!

6- Ou muito pelo contrário: você está ouvindo palpites demais de pessoas que não têm o perfil do seu cliente. Por isso, seu protótipo está na qüinquagésima versão beta.

7- Você não percebeu ou não quer reconhecer, mas deixa o titio-aqui lhe dizer uma coisa: sua idéia é inviável — tecnològicamente e econòmicamente. Desapega! Desapega! 

8- Você e seu sócio estão puxando a empresa para segmentos diferentes do mercado. Vocês não conseguem criar uma ponte ou bater-o-martelo numa só direção. 

9- Você é uma galinha carijó aterrorizada pelo bafo gélido do desconhecido, soprando na sua cacunda. Eu não sei se galinhas têm cacunda; mas que você está com medo, ah está!

10- Você ouviu falar em timing ideal para o lançamento dum produto; e você acha que sua brilhante intuição de principiante dar-lhe-á o sinal para uma entrada apoteótica.

11- Sua idéia começou magrinha, simples, viável e enxuta: perfeita para levar na mochila! Depois de muito brainstorming e megalomania, olhe para ela: é o King Kong!

12- Você parece aqueles tiozinhos deprimidos da fila do café, quando dizem assim: "quando eu me aposentar, vou aprender a tocar piano, viajar, escrever um romance..."

13- Você já poderia estar ganhando dinheiro com uma versão enxuta do seu produto ou serviço. Mas não: se Estêvão Jobim quer ser Steve Jobs, ele será Steve Jobs, né?

14- Sua vida é mais enrolada e tensa que uma bobina de Tesla. Eu também não sei como você daria conta das finanças duma empresa. Uma dica: comece limpando seu quarto.

15- Você ainda não consegue responder às seguintes perguntas-premissa sobre sua idéia: ¿o que ela é? ¿para quem será? ¿por que ela existe? ¿quanto custará?

16- Você passou os últimos anos tendo "idéias", mas até agora você não fez um puto! dum orçamento, nenhuma pesquisa-de-mercado, nenhum protótipo... Nada!

17- Seu plano-de-negócio já tem mais páginas que As mil-e-uma noites e é tão chato quanto o Código Tributário. ¿Que tal pôr alguma coisa dali em prática? Queime-o!

18- Você ainda espera que um investidor de armadura brilhante chegue em seu cavalo branco e o resgate da torre do emprego formal. Continue esperando, Rapunzel!

Até-mais-ver!

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

FRASES DA SEMANA 9


“O CAPITAL-ANJO TEM ESSE NOME NÃO PORQUE ELE VAI GUARDÁ-LO DOS PERIGOS, MAS PORQUE ELE VAI DEIXÁ-LO COM A CONSCIÊNCIA PESADA.”

Professor Venerando Galáctico, astrólogo, faquir e crítico literário.


“QUANDO MINHA EMPRESA ESTÁ À BEIRA DA FALÊNCIA, EU NÃO PENSO EM CONSULTAR GURUS; EU SÓ PENSO EM ENTORNAR UNS GORÓS.”

Doutor Benemérito Cevada, enólogo e terapeuta motivacional. 

DESAFIOZINHO 5

Olá, produtos inequívocos do carnaval! Antes-de-mais-nada, devo adverti-los que os desafios das semanas anteriores ainda continuam sem solução e, por conta disso, alguns alunos continuam detidos como meus reféns, sob um regime terrível de soja & água, em condições mentalmente insalubres, lendo Paulo Freire e ouvindo as músicas do Pablo da "sofrência". ¿E tudo-isso por culpa de quem? Vocês!

Então, vamos aproveitar uma das ferramentas apresentadas neste blog: a clássica Análise SWOT. ¿Vocês se lembram dela? Trata-se dum quadro onde são resumidos os principais pontos fortes (S), fraquezas (W), oportunidades (O) e ameaças (T) do negócio. Vimos também uma versão mais completa que fiz dessa ferramenta, onde os cenários interno & externo da empresa são interpolados.

Então, o exercício é o seguinte. Você desenvolveu um modelo-de-negócio do balacobaco que consiste em fundir, no mesmo espaço, um retiro para idosos e uma creche. ¿Estranho? Pois saiba que este é um novo conceito de serviços. Quem tem idosos e crianças na família, e quem já acompanhou as dificuldades dos pais jovens em criar seus filhos, já deve ter entendido onde eu quero chegar.

¿Vocês já estão com cifrões nos olhos? Pois muito bem! Usando a Análise SWOT, considerem todos os pontos fortes e as fraquezas, as oportunidades e as ameaças desse modelo-de-negócio. Mas não levem em conta apenas os aspectos financeiros dos paranauês; tenham em mente também as questões éticas, legais, psicológicas e sociológicas. ¿Entendido? Beleza! Então, que comecem os jogos!

Até-mais-ver!

Diagrama clássico para análise SWOT, maquiavèlicamente aperfeiçoado pelo autor.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

DICA DE LEITURA 5


Olá, crias! ¿Sentiram saudades da minha pessoa? ¿É? Pois eu não! O livro que eu vou resenhar nesta semana é, talvez, o mais vendido e usado pelos professores de empreendedorismo por aí. Trata-se do livro O segredo de Luísa, de Fernando Dolabela. Nele, o autor narra a história fictícia de Luísa, uma estudante de odontologia mineira que resolve criar sua própria empresa: uma indústria de goiabadas. 

O autor foi muito ousado e criativo ao apresentar o passo-a-passo de criação duma nova empresa por meio dum romance, no qual os problemas gerenciais e as opções técnicas do negócio são entremeados didàticamente com as angústias, dúvidas e dificuldades da  personagem. Com isto, o que tinha tudo para ser um tema chato, tornou-se um assunto palatável para um público leigo em geral.

Porém, em suas ambições literárias, Fernando Dolabela não foi tão feliz. A estrutura do livro ficou um pouco confusa. É preciso ficar voltando páginas e relendo trechos, pois o romance tem que ser interrompido várias vezes para a leitura de caixas-de-texto cinzas. Aliás, ¿querem saber duma coisa? Eu recomendo apenas a leitura das caixas-de-texto cinzas, que explicam o que realmente interessa.

Digo isto porque a trama da história de Luísa é bobinha, superficial, banal e tola. Trata-se dum enredo de novela das seis piorado vinte vezes. Os personagens são títeres vazios, estereotipados e totalmente desprovidos de personalidade. São caixas onde o autor enxertou suas palavras. Por isto é que os diálogos são tão ruins: é impossível diferenciar o estilo do narrador do estilo dos personagens.

Fernando Dolabela é o introdutor e o desbravador da pedagogia empreendedora no país. Mas, definitivamente, ele não é escritor e muito-menos romancista. Suas análises (caixas-de-texto cinzas) são perspicazes, completas, competentes e utilíssimas. Devem ser lidas com toda a atenção. Mas eu acho que o autor cagou no livro com essa històrinha chinfrim da tal Luísa. No mais, o livro é bom!

Luísa é uma versão tupiniquim e pioradíssima da personagem Dagny Taggart, do romance A revolta de Atlas, da Ayn Rand. O livro termina com um exemplo completo de plano-de-negócio. Leiam-no com atenção! Todo o quarto capítulo, aliás, é excelente e merece ser lido todo. Por fim, eu não poderia deixar de estragar o final do livro: o tal "segredo de Luísa" está entre as páginas 206 e 208.  É piegas.

DOLABELA, Fernando. "O segredo de Luísa". Rio de Janeiro: Sextante, 2014. 304 páginas. R$ 39,90.

DEPOIMENTOS:

"O maior segredo de Luísa é passar quatro capítulos preenchendo burocracia e terminar o livro sem matar nenhum personagem."

Zèzinho Cadela, tràficante, miliciano e deputado.


"Uma história brasileira sobre empreendedorismo em que a heroína não quebra no final... Hum... Só podia mesmo ser ficção!"

Gianni Cazzo, màfioso e/ou crítico literário.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

FRASES DA SEMANA 8


"MUITOS CONSULTORES ME CHEGAM COM O DEDINHO EM RISTE, CHEIOS DE CONSELHOS. ALGUNS EU NÃO SEI SE MANDO PARA O SEBRAE OU PARA A APAE."

Doutora Paty Faria: consultora, podóloga e agente carcerária.


"EIS UM MODELO-DE-NEGÓCIO PERFEITO PARA A ATUAL CONJUNTURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA DE HOJE-EM-DIA: GANHE PROPINA SEM SAIR DE CASA!"

Doutor Pelúcio Severo: astrólogo, cineasta e tocador de realejo. 

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

CAPÍTULO 14- TODO EMPREENDEDOR TEM UM IRMÃO-GÊMEO DE HUMANAS

Enquanto você se esforça pra ser um sujeito normal.


Ah, leitor! Ah, leitor! Nos capítulos anteriores, você me acompanhou elencando as quatorze características fundamentais que encontramos na personalidade empreendedora. ¿Quantas delas você possui? ¿Todas, muitas, poucas? Se eu tivesse de sintetizar em poucas palavras o que é empreender, eu resumiria o bagulho da seguinte maneira: empreender é a tentativa de exteriorizar seus valores internos por meio dum modelo-de-negócio inovador e escalável, buscando, com isto, a autorrealização da personalidade e a produção de sinergias positivas com os valores internos das outras pessoas, trocando com elas as riquezas por meio de relações de mercado voluntárias e recebendo, por isto, dinheiro como medida do próprio sucesso.

Complicado, né? Muita gente também acha isso meio complexo. Eu reconheço que a chantagem, o vìtimismo e a extorsão política através da lenga-lenga da "dívida histórica" são abordagens... digamos... mais práticas e diretas de se tungar a grana duma elite culpada & covarde. Bastaria você encontrar um antepassado oprimidinho e choramingar por algo que você — coisa linda! — imagina que merece. Daí é preciso só montar um "coletivo" de "lutas sociais" e sugar uma grana gostosa do governo. É sucesso garantido: esforço mínimo pelo barulho máximo. ¿Não é bizarro que você, ainda assim, queira montar uma startup, mesmo sabendo dos obstáculos associados e havendo tantos caminhos mais fáceis à sua disposição?

Eu admiro você, caro leitor! É sério! Você passou quatro-cinco anos numa faculdade particular — bem-paga com aquele estágio mal-pago em período integral. Ônibus e trólebus, metrô e balsa, bicicleta e patinete; sem contar aquela lotação fuleira dirigida por um motorista clandestino virado no tinhoso. ¿Quantas vezes você foi assaltado? Você, faminto, enganava o estômago com milho-verde ou pipoca. Mais alguns meses de aula, e você começaria a cacarejar, graças a essa dieta pobre e galinácea. Exausto, você capotava de sono nas aulas. A mente sabia que precisava se agüentar, mas o corpo dizia: "fui!" Daí veio o alívio: o diploma. Na cerimônia de formatura, foi-lhe descortinado um futuro de sucesso pela frente. Ahan! 

Enquanto isso, a quilômetros dali, numa universidade pública, um sujeito que poderia ser seu irmão-gêmeo separado no berçário, arrastava o décimo ano dum curso de ciências sociais. Com o exemplar do Manifesto Comunista no porta-luvas do carro do papai e o papel-de-seda furtivamente escondidinho entre os cartões-de-crédito internacionais, seu irmão-gêmeo de humanas passava os dias em reitorias invadidas, escrevendo moções-de-repúdio, indo a passeatas contra algo "muito sério" e travando discussões profundas sobre a opressão patriarcal e a ascensão da "extrema-direita" sueca. Até hoje, seu irmão-gêmeo de humanas tem poucos problemas pessoais; e é por isso que ele pode inventar alguns para o mundo. 

Mas não ria dele, leitor! Ele tem mais a-ver com você do que você gostaria de pesadelar. Ele, assim como você, também deseja mudar o mundo. (É claro que os planos dele para isso envolvem um banho-de-sangue no chuveirinho da revolução, mordaça na imprensa e muito poder estatal). Mas tudo bem! Ele também acabou de se formar. A faculdade dele também o mimou com a perspectiva dum grande futuro em letreiro garrafal. Mas a parte mais bacana dessa história não lhes contaram: não existem as tais "perspectivas promissoras", não há futuro viável, não há emprego nenhum esperando por ninguém! Vocês agora se encontram alistados num exército-de-reserva de milhares de graduados, jogados todo ano no mercado.

Vocês caíram no conto do diploma de bacharel; e compõem hoje uma massa de jovens profissionalmente frustradíssimos, prontos para se jogarem raivosos contra o sistema ruinzão. Porém, a forma como vocês reagirão a esse anticlímax pós-formatura dependerá do conjunto de valores & crenças que lhes foram introjetados na faculdade. É de se esperar que seu irmão-gêmeo de humanas tenha poucas coisas simpáticas a dizer sobre o capitalismo. Aliás, o desemprego só veio a confirmar suas suspeitas: o bicho-grilo achará que o "sistema" o pune e sabota pois teme seu potencial revolucionário. Ahan! (É prudente não contrariar). Resta saber então o destino desse nosso anti-herói. ¿Quem absorverá sua inutilidade?

A população de bacharéis de humanas, não-absorvida pelo mercado-de-trabalho, será incorporada pela carreira docente ou pelo serviço público. Mas ainda ó pouco. A parcela restante, gradualmente radicalizada, comporá aquela galerinha muito doida que apronta de montão e se amarra num agito, curtindo um quebra-quebra quase perfeito. Apresento-lhe, leitor, a militância esquerdista! O dinheiro que o Estado extrairá via impostos da parcela produtiva da população, fará florescer um arquipélago luxuriante de "coletivos", entidades, sìndicatos, fundações e organizações neo-governamentais dirigidas por essa gente fofa. Afinal, nada como dinheiro público para anestesiar um esquerdista. ¿Entende onde eu quero chegar?

O militante esquerdista é a versão de humanas do empreendedor universitário. Os tais "coletivos" são suas incubadoras. Mas lá não se incubam empresas, e sim partidos cômicos de extrema-esquerda. Seus planos-de-negócio são seus manifestos presunçosos. Uma suposta revolução, sempre adiada, é a necessidade que eles pretendem satisfazer. Os clientes são eles-mesmos. A baixa-política do movimento estudantil é seu segmento-de-mercado. As chapas são as versões soviéticas das startups. A engenharia envolvida é a social. E consta que a última inovação tecnológica deles surgiu lá pelos idos de 1848. Este é seu avatar bicho-grilo.

¿Mas e você, leitor? ¿Você, ex-aluno de engenharia, de administração? ¿Quem pagará seu faz-me-rir? Acho que é neste momento que você se recorda daquele seu ex-professor que dirigia uma startup, e daquele outro que lhe falava dum negócio... ¿como era mesmo? empreendedorismo e microempresários, e daquele seu orientador que profetizava, com humor-negro, que você encontraria bastante trabalho aqui fora, mas nenhum emprego. Essas conversas finalmente começam a fazer sentido para você, né? Você enxerga agora o encaixe que existe entre seu propósito individual, suas características de personalidade, as condições deste país as alternativas que lhe foram deixadas pela carreira. ¿Então vamos em frente? 

Até-mais-ver!

¿QUEM É JOHN GALT?

CAIXINHA DE FERRAMENTAS 3


Olá, criançada! ¿Hoje tem marmelada? — Acabou! ¿Hoje tem palhaçada? — Não estou com saco! Na semana passada, eu mostrei para você, leitor, nossa segunda ferramenta estratégica: a Análise SWOT. ¿Lembra? Trata-se da ferramenta mais conhecida entre o pessoal da gestão. O objetivo dela é detectar as forças (S), os pontos fracos (W), as oportunidades (O) e as ameaças (T) do negócio. Entretanto, é importante salientar que as ferramentas que eu mostrarei neste blog não são varinhas-de-condão que farão sumir seus abacaxis & pepinos; elas servirão apenas para analisar cenários, detectar problemas e direcionar recursos. ¿Entendido?

Pois bem. Geralmente, a literatura identifica o par S-W como fatores internos à empresa, e o par O-T como variáveis externas que estão fora do controle do empresário. Mas... caramba! as empresas que se encontram no ambiente externo também têm suas próprias fraquezas e pontos fortes; e existem ameaças e oportunidades esperando para serem reveladas aí mesmo — no ambiente interno da sua empresaEntão, com um pouquinho mais de conhecimento sobre seu negócio, seu segmento-de-mercado e seus concorrentes, creio que o pequeno empresário metido a Sun Tzu poderá extrapolar, sofisticar e extrair muito mais dados da Análise SWOT

¿Mas como? Eis o que o titio aqui pretende ensinar nesta postagem. Observe os hexágonos na figura abaixo. Os hexágonos maiores representam o segmento-de-mercado onde você pretende ingressar. Se preferir, considere-os como sendo seus concorrentes maquiavélicos. Os hexágonos menores, inscritos dentro dos maiores, representam você — pequeno empreendedor pimpolho. Tanto os agentes do mercado (hexágonos maiores) quanto você (hexágonos menores) possuem o próprio conjunto de forças, pontos fracos, oportunidades e ameaças. Se você não se lembra o que são cada item, clique na tag desta postagem e releia a postagem da semana passada.

Pois muito bem. Agora imagine o seguinte: o hexágono menor gira sobre o hexágono maior, criando quatro conjuntos possíveis de combinações estratégicas entre os fatores S, W, O e T. Na posição original, vemos que todas essas variáveis encontram-se alinhadas. Isso significa que você tem uma grande dificuldade de diversificar seus produtos ou serviços em relação aos oferecidos pela concorrência. ¿Como sei disto? Ora, suas forças, pontos fracos, oportunidades e ameaças coincidem ponto a ponto com os do segmento-de-mercado em que você está inscrito. Eu tenho duas palavras para definir essa situação: 1) cilada e 2) Bino. Falemos mais dessa posição. 

Depois de unificar e organizar todos os dados que você obteve dos seus concorrentes na base da tortura, do suborno, da traição, da ameaça, do petismo (brincadeirinha!), se você perceber que têm o mesmo perfil SWOT deles, isso significa que sua empresa é muito semelhante às outras do mercado. E sendo você pequeno e elas grandes, essas empresas poderão. a qualquer momento. usar seus ganhos de escala para travar uma guerra de preços-baixos contra você, esmagando-o como um inseto em poucos meses. Elas poderão usar seu poder entre fornecedores, redes e canais de distribuição atacadistas para ferrá-lo bem gostoso. Então, giremos o hexágono.

Na primeira rotação, as forças (S) dos seus concorrentes tocam nas suas fraquezas (W). Ui! As fraquezas (W) deles são uma ameaça (T) contra você. Essa inusitada situação ocorre quando sua empresa depende das externalidades ou dos subprodutos disponibilizados pela atividade produtiva dos concorrentes, ou usa os canais de distribuição desbravados por eles. Continuando: as ameaças (T) deles abrem para você interessantes oportunidades (O). E veja que maravilha: as oportunidades (O) deles encontram-se com suas forças (S). E então, pequeno gafanhoto, ¿conseguiu entender o espírito da bagaça? Pois acompanhe abaixo os quatro conjuntos de combinações.

Primeiro conjunto: forças:
(-) ¿O que fazer quando a S deles é sua W?: rezar muito; evitar o confronto direto nos mesmos mercados das grandes empresas; concentrar-se num nicho; testar protótipos e pivotar serviços; investir em propaganda e marketing; investir em sua marca, etc.
(-) ¿O que fazer quando a S deles é sua T?: criar barreiras-de-entrada em seu segmento; concentrar-se num nicho onde eles não possam entrar; proteger sua tecnologia; diversificar seus produtos ou serviços; investir no atendimento individualizado ao cliente, etc.
(- ou +) ¿O que fazer quando a S deles é sua O?: oferecer às grandes empresas serviços de atividades-meio complementares às suas atividades-fim; aproveitar-se do portfólio de clientes e dos canais de distribuição abertos por elas; voar no vácuo delas, etc.

Segundo conjunto: fraquezas:
(+ ou -) ¿O que fazer quando a W deles é sua T?: detectar e tornar-se independente das externalidades ou subprodutos dos concorrentes; produzir sua própria rede sociotécnica; criar redes virtuais; mapear os riscos do mercado; precaver-se do efeito dominó, etc.
(+) ¿O que fazer quando a W deles é sua O?: reconhecer a origem e aproveitar as fraquezas da concorrência; criar barreiras para aumentar e prolongar essa vantagem; explorar os efeitos de preempção (ocupação antecipada de mercados) no seu nicho, etc.
(+) ¿O que fazer quando a W deles é sua S?: compreender em que consistem essas forças e fraquezas: se são absolutas ou relativas, se são estruturais ou dinâmicas; precaver-se contra a possibilidade de fortalecimento da concorrência; erguer barreiras, etc.

Terceiro conjunto: oportunidades:
(- ou +) ¿O que fazer quando a O deles é sua S?: criar sinergias e parcerias com seus concorrentes; detectar as migalhas de oportunidade desprezados por eles; aproveitar-se das externalidades ou dos subprodutos; frustrar o aproveitamento disso por outros, etc.
(-) ¿O que fazer quando a O deles é sua W?: considerar a hipótese de não as aproveitar; avaliar se as oportunidades dos concorrentes ameaçam sua existência; reavaliar seus riscos e custos; procurar serviços ou produtos substitutos, sucedâneos ou imitações, etc. 
(-) ¿O que fazer quando a O deles é sua T?: inovar; considerar a hipótese de mudança de segmento; fidelizar sua rede de clientes; queimar os estoques; criar promoções; fazer contrapropaganda; combater ou aproveitar as oportunidades da concorrência, etc. 

Quarto conjunto: ameaças:
(-) ¿O que fazer quando a T contra eles é sua O?: investir em marketing de guerrilha (ainda ensinarei isso); mapear e atacar os pontos fracos da concorrência; entender e defender suas vantagens relativas e dinâmicas; desenvolver inovações disruptivas, etc.
(-) ¿O que fazer quando a T contra eles é sua S?: detectar formas mais estruturais, independentes e asseguradas de força a longo prazo; procurar as próprias fontes de força; estudar o ciclo do produto ou do serviço; explorar o timing de entrada no mercado, etc. 
(+ ou -) ¿O que fazer quando a T contra eles é sua W?: buscar novos parceiros; redesenhar suas alianças estratégicas; detectar e defender-se de ataques indiretos; mapear e entender como o afetam as ameaças contra terceiros; lutar por sua independência, etc.

Até-mais-ver!

Ferramenta SWOT bidimensional e rotacionada (criação própria).


domingo, 15 de novembro de 2015

POSTAGEM-RELÂMPAGO 11


1- A inveja e a torcida contrária. Neste país, o sucesso alheio é visto como uma ofensa pessoal, um tapa na fuça dado com as costas da mão, uma afronta que merece resposta à altura do Estado. O brasileiro vê a economia como um jogo se soma-zero. "Se João ganha, é porque Pedro perde." Tente convencer Pedro de que os ganhos de João criarão externalidades que o beneficiarão. Boa sorte.

2- A resistência do entorno familiar. Situação 1: "Passei no concurso público da Receita Federal!" Parabéns! Situação 2: "Vou abrir um negócio!" Hum... Boa sorte. ¿Essa reação lhe soou familiar, caro leitor? O empreendedor brasileiro ainda é visto pela família como alguém que vai para a guerra, que descobriu uma doença incurável, que desaparecerá numa peregrinação. E não é que é verdade!?

3- O mimimi e o vìtimismo. Responda-me: ¿para quê trabalhar feito um condenado, agüentar desaforo do governo e da sociedade, produzir para caloteiros e espertalhões se eu posso ingressar nalgum "coletivo" de minorias barulhentas e conseguir, pela chantagem ou pela extorsão política, o que eu não sou capaz de conseguir por mérito próprio, em trocas voluntárias no mercado? ¿Para quê?

4- O maquiavelismo tupiniquim. Nossas relações sociais estão sempre envoltas numa aura de maquiavelismo moral que nos obriga a preparar um contra-logro para nos defendermos dum logro ainda maior da outra parte. Isso contamina as negociações, dá margem à burocracia, dá emprego a intermediários dispèndiosos e faz com que o Estado-Babá venha nos proteger de nós-mesmos.

5- Estadolatria. Em países sérios, quando um sujeito tem uma idéia bacana, ele logo elabora um modelo-de-negócio, desenvolve um protótipo e vai atrás dos investidores e consumidores. No Brasil, quando um babaca acha que teve uma idéia legal, ele elabora uma política pública, aparelha minorias raivosas e vai atrás de dinheiro público em Brasília para abastecer sua ONG sem-vergonha.

6- Governofilia. O brasileiro é um povo hábil. Ele sempre encontra um problema certo para que seu estimado governo lhe ofereça uma solução errada, burra e cara. Vem daí a cultura do empresário meninão: uma criança de oitenta anos, mimada e birrenta, estragada pela superproteção alfàndegária, eternamente dependente do "alentamento" via empréstimos camaradas do BNDES. Dá a chupeta!

7- A vergonha do fracasso. ¿Você já ouviu falar na FailCon? Deixe-me ver como eu posso explicar... É uma espécie de Oscar, mas é onde fundadores de startups compartilham seus fracassos, aprendem com os erros dos outros e evitam repetir as mesmas bobagens. Isto é novo, pois o brasileiro prefere mesmo é esconder seus fracassos e caminhar, orgulhoso & apressado, rumo ao próximo tropeço.

8- Aversão a riscos. A condição natural do homem é a ignorância e a miséria. Se hoje pudemos criar uma geração de covardes e mimados, viciadas em conforto e segurança, é porque alguns de nós arriscaram sua pele e pagaram caro por isso. Eu não vou entrar em questiúnculas autobiográficas, mas creia em mim: a zona-de-conforto sufoca, a zona-de-conforto mata, viver é correr riscos, baby!

Até-mais-ver!
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...