sábado, 14 de novembro de 2015

POSTAGEM-RELÂMPAGO 10



1- Todo-mundo sabe de-cor & sapateado o-quanto a carga tributária, a burocracia soviética & kafkiana, a infraestrutura desavergonhada e a corrupção homérica deste país atravancam as inovações tecnológicas, a produtividade e o empreendedorismo. Ok. Mas... ¿e quanto aos obstáculos humanos e culturais que, dentro de nossas mentes, atravancam-nos com igual ou maior apelo? Eis o que veremos nesta listinha.

2- A cultura do padrinho. Há um famoso prêmio de publicidade e propaganda cujo lema é: "nada substitui o talento". Quem dera! Nessas terras, gênios podem passar a vida inteirinha na penumbra do ostracismo porque não encontraram um poderosinho que os apadrinhasse. A cultura do padrinho refuga e ignora pessoas talentosas e guinda às alturas (exemplo: presidência) pessoas incapazes de puxar uma carroça de esterco. 

3- A tolerância com a incompetência. Admitamos: além do futebol, há outros dois esportes nacionais muitíssimo populares entre nós: 1) o tiro-ao-alvo no próprio pé e 2) o arremesso de desculpas a-distância. Nós padecemos duma mole tolerância à incompetência, ao corpo-mole, à procrastinação e às espertezas sucedâneas. Aqui, o que nos causa espanto é sermos bem-atendidos e recebermos exatamente aquilo pelo que pagamos. 

4- A prática da reserva de mercado. Imagine o seguinte: você inventa um aplicativo que é uma belezura e irá facilitar a vida de milhões de pessoas. Que maravilha, né? Porém, já no dia seguinte, as hordas das trevas, lideradas pelo asqueroso Lord Zogan, começam a atacar sua cidadela da inovação. Então você só terá as seguintes opções: Jabaquara, Guarulhos, Cumbica e Viracopos. ¿Entenderam a alegoria e a metáfora?

5- A vegetação luxuriante de sìndicatos, conselhos, ordens disso & ordens daquilo. O Brasil ainda vive numa espécie de Idade Média corporativa, na qual vagabundinhos incompetentes e desqualificadas — cujas únicas competências e qualificações resumem-se a subir-na-vida sem nenhuma competência ou qualificação — unem-se para cagar-regras e dificultar o trabalho de pessoas decentes e produtivas. 

6- A idolatria ao bezerro-diploma. Uma das maiores vantagens da educação empreendedora é a possibilidade de mostrar ao aluno a real e vital aplicação prática das coisas que ele vê na sala-de-aula. Porém, salvo disposições em contrário, o estudante brasileiro deseja sair da faculdade tão boçal e inepto quanto entrou, mas com um diploma que certificará substitutivamente um conhecimento que ele não tem e não quer ter. 

7- A idolatria ao bezerro-concurso. O brasileiro é um homem de fé! E uma das crenças mais malucas do brasileiro é achar que todos podem "trabalhar" para o "governo" com altos salários, e ninguém precisará pagar por essa conta. É o que eu chamo de "paradoxo do barnabé". O governo não produz nada além de leis estapafúrdias, roubalheira e burocracia. Mas todos querem trabalhar para esse vasto latifúndio cèrebral!

8- A política de quotas para otários. Eu tenho uma tese: todos os dias, o brasileiro entra pelo-menos duas vezes na fila do vale-otário. Somos tungados pelo governo, por minorias barulhentas de vagabundos, por coitadinhos-espertalhões, por juros de agiota, por telefônicas e banqueiros salafrários... Isto é até normal. O anormal é ficarmos calados. ¿Será que alguém já precificou nossa disposição para ser idiota?

Até-mais-ver!

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

FÓRUM LIVRE E SUGESTIONÁVEL 5


Salve-salve-salve, ó vítimas do delírio da queda! Saibam vocês que este blog de meu-deus completa hoje um mês de vida, com mais de 2500 visitas. Como diria o carinha da Apolo 11: "eis um pequeno passo para um zé-ruela, mas um grande salto para a porcaria-nenhuma!" Algumas modificações estão sendo feitas paulatinamente. O Richard e o Douglas fizeram-me importantes recomendações que já foram prontamente incorporadas. Outras estão por vir. Sei que estou atrasado com as atualizações do irmão-gêmeo deste blog no Wordpress. Mas resolverei isso já-já. 

Eu mudei a cor do plano-de-fundo do blog para uma mais clara. Alguns leitores afirmaram ter desenvolvido glaucoma & catarata por causa daquele verde-óbito do fundo antigo. A fonte também foi modificada para uma mais bonitinha & ordinária. Estou esperando o resultado da última enquete (votem!) para implantar outras alterações estéticas no blog. Falando nisso, doravante, os capítulos seqüenciais terão lides — que são aquelas frases curtas e em destaque, no topo da folha, que servem para sìntetizar o assunto da postagem — e imagens que surrupiarei da Internet.

Alguns leitores consultados reclamaram que meus textos são meio longos. Olhem... eu havia estabelecido para mim uma meta: cada texto não ultrapassaria oito parágrafos; cada parágrafo não ultrapassaria treze linhas do Word. Mas parece que eu dobrei a meta. Pensarei melhor sobre isso. Mas reparem: meus parágrafos têm sempre o mesmo número de linhas. Eu chamo isso de "a doença". Por exemplo: como eu já escrevi o que queria dizer neste parágrafo, eu vou ficar aqui enrolando vocês até completar o número exato de linhas dos parágrafos anteriores. Pronto.

Teremos novidades em breve. Criarei uma seção chamada "pergunte ao guru sincericida", em que o leitor enviará uma pergunta anônima e ela será respondida pelos nossos renomados consultores: o Palhaço Mixuruca, a Doutora Débora Dobrada, o Professor Sigismundo Baratinha, o Doutor Pelúcio Severo, o Mestre Galindo Pinto, o Professor Austregésilo Matusalém, etc. Também prometi — e estou prestes a cumprir — a realização de entrevistas com gente boa das startups. Os vídeos que vocês pediram é que demorarão um pouquinho. O puto do Tarantino não quer me dirigir!

Estou trabalhando na divulgação e no melhoramento deste blog. Se você acha pertinente, interessante ou engraçado o conteúdo que lê aqui, curta-o, divulgue-o no Facebook, compartilhe-o com os amiguinhos. Ajude-nos a espalhar nosso evangelho: "o concurso público não é o enterro decente que seu diploma merece." Este fórum é seu! Coloque aí nos comentários suas críticas, elogios, sugestões de assuntos, melhorias estéticas ou mudanças que gostaria de ver aqui. Aproveitem que eu estou facinho-facinho. Quando o blog crescer, eu não olharei mais na cara de ninguém. Zoeira!

Até-mais-ver!

¿QUEM É JOHN GALT?

FRASES DA SEMANA 7



"CONHECER A POLÌTICAGEM QUE ROLA SOLTA EM SEU AMBIENTE DE TRABALHO PODERÁ prÈveni-LO DE PARTICIPAR DUMA PALHAÇADA sórdida, MAS NÃO IMPEDIRÁ QUE A PALHAÇADA CONTINUE sem você. O SHOW tem que CONTINUAR!"

Palhaço Mixuruca, animador de auditório, professor e cínico. 


"A CARREIRA É COMO UMA CORRIDA PARA A QUAL VOCÊ SE PRèPARA MALHANDO E PUXANDO-MAROMBA. NUM BELO DIA, VOCÊ DESCOBRE QUE ESSA CORRIDA NÃO É DE VELOCIDADE, MAS SIM DE RESISTÊNCIA. surpresa: a morte o espera no final."


Professor Austregésilo Matusalém, datilógrafo, empalhador e múmia.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

CAIXINHA DE FERRAMENTAS 2


Olá, galerinha mais-ou-menos! Dando continuidade à série iniciada na semana anterior, venho hoje lhes apresentar uma das mais conhecidas & manjadas ferramentas estratégicas: a análise SWOT. Este nome vem da sigla inglesa para as palavras forças, fraquezas, oportunidades e ameaças. Espero que gostem!

A análise SWOT serve para que o empreendedor faça uma autoanálise de si e do ambiente interno à própria empresa, reconhecendo seus pontos fortes e fracos (S e W) e, com isto, consiga se localizar no mercado, reconhecendo igualmente as oportunidades e ameaças do seu empreendimento (O e T).

As forças são os pontos fortes e internos, os diferenciais competitivos e as vantagens que colocariam o empreendedor e sua empresa à frente das demais. Por exemplo: uma clientela cativa, a qualidade do produto ou do serviço oferecido, o capital em caixa, os parceiros poderosos, a unidade do propósito, etc.

As forças também dizem respeito à pessoa do empreendedor: seu conhecimento, suas habilidades, sua formação acadêmica e experiência profissional, seus traços de caráter, seus recursos materiais e culturais, seus contatos e as redes sociotécnicas às quais ele pertence. Tudo isso diz respeito à força da empresa. 

Por sua vez, são consideradas fraquezas os pontos frágeis e internos do negócio. Por exemplo: premissas ruins, capital inicial escasso, localização inadequada dos pontos-de-venda, má qualidade do produto ou do serviço, falta de canais-de-acesso aos clientes, barreiras de entrada no mercado, dívidas, etc.

Fraquezas pessoais dos empreendedores também deveriam ser consideradas, embora boa parte dos teóricos não levem isso em conta. Por exemplo: características de personalidade inadequadas, formação deficitária, pouca experiência ou conhecimento naquele mercado, vícios, podres, etc.

Indo para o lado externo da empresa, na categoria das oportunidades encontraríamos os nichos de clientes, as demandas represadas, as necessidades não-satisfeitas, os novos mercados abertos pela inovação, pela exportação ou pela legislação, os recursos ainda não-explorados ou mal-explorados, etc.

O mesmo vale para a sua pessoa: uma das características mais apreciadas nos empreendedores é sua capacidade periscópica de detectar oportunidades escondidas atrás dos problemas (em geral, dos outros). O empreendedor é um radar atento e sempre inquieto. Ainda falaremos disso longamente .

Por sua vez, o quesito ameaças abrange uma longa lista. O empreendedorismo é o reino do risco, o universo das incertezas, das incógnitas e das variáveis. Por isso, aconselho que os empresários de primeira-viagem sempre façam um brainstorming continuado e muitíssimo detalhado das ameaças ao seu negócio. 

Inovações tecnológicas, imitadores e sucedâneos, mudanças bruscas nos hábitos do público, dependência dum único fornecedor, alterações na legislação e nas normas técnicas, entrada dum concorrente agressivo, processos trabalhistas e ambientais, acidentes ou catástrofes — tudo isso são ameaças. 

Oportunidades e ameaças são variáveis sempre relativas e incertas, porque dizem respeito, antes-de-mais-nada, à relação que as forças-fraquezas internas da sua empresa manterão com as forças-fraquezas externas dos concorrentes, fornecedores, instituições da sociedade, agentes do mercado, etc.

Falando em linguagem maquiavélica, poderíamos dizer que o par S-W corresponderia à virtù, quer dizer, às capacidades individuais do líder. Já o par O-T corresponderia à Fortuna, quer dizer, às forças do acaso (sejam as da sorte ou as do azar) que sempre sorriem àqueles que para elas se preparam.

Na figura abaixo, eu coloquei um diagrama SWOT básico, parecido com aquele que você encontrará em qualquer bom livro de estratégia empresarial. Lembre-se bem dele. Na próxima semana, eu proporei minha versão pessoal desse diagrama — mais completa e mais dinâmica. Aguardem!

Até-mais-ver!

Diagrama clássico para análise SWOT, maquiavèlicamente aperfeiçoado pelo autor.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

CAPÍTULO 13- EMPREENDEDORES: ¿ONDE VIVEM? ¿COMO SE REPRODUZEM?

Conheçamos um pouco mais dessa tribo muito louca: os empreendedores.


Oi, povo! ¿Como vão indo? Pois vocês não irão a lugar nenhum! Como vocês sabem, eu venho usando as postagens recentes para traçar uma ràdiografia da personalidade empreendedora. Embora a maioria das características e idiossincrasias que eu listei aqui pareçam ser todas lisonjeiras & positivas, algumas, porém, podem transformar os empreendedores em empregados-problema, caso eles trabalhem em empresas tradicionais que funcionem sob a égide do "fetiche da carreira". Na semana passada, eu citei aqui, pela ordem: a Síndrome de Ligeirinho, que é a pressa e a ânsia em galgar altos postos (tudo ao mesmo tempo e agora); o Complexo de Mozart, que se refere à hostilidade para com hierarquias e autoridades que não as fundadas no mérito pessoal; a Síndrome de Leônidas, caracterizada por uma prèdisposição ao autossacrifício que os fazem abrir-mão da segurança associada às carreiras tradicionais; a Síndrome do ornitorrinco, quer dizer, a tolerância a situações e ambientes marcados pela ambigüidade, pela diversidade e pelas incertezas e, por fim, o Mal de Alice, cujo sintoma é uma curiosidade insaciável pelo desconhecido e uma desconfiança zombeteira diante daquilo que "todos sabem". ¿Prontos para o resto da lista?

8- Síndrome de Sócrates (humildade intelectual). Imagine a seguinte situação: a pintura da sua casa começou a descascar. A umidade está formando manchas e calombos horrendos em lugares maldosamente posicionados no campo-de-visão das visitas. ¿O que você faz? Resposta: você se mete a pintor. ¿Qual é o resultado do trabalho? Resposta: uma bela bosta! É inevitável que o empreendedor de primeira viagem tenha de se virar como faxineiro, advogado, contador, secretário, motorista, macumbeiro e veterinário da própria empresa. É inevitável! Eu já lhe disse isso aqui várias vezes. Mas chegará aquele momento em que você precisará ter a humildade intelectual de reconhecer as fronteiras dos seus conhecimentos & habilidades. Você então será envolvido pela penumbra da ignorância; e precisará reconhecer que está perdidinho. Seus badalados títulos acadêmicos virarão pó diante duma planilha de impostos, diante dum processo produtivo que você, digníssimo doutorzinho, não domina nem conhece. Então, depois de juntar e engolir os caquinhos do eu ego destruído, você precisará exercitar uma qualidade apreciadíssima entre os empreendedores: a humildade intelectual e a habilidade de se cercar de pessoas que saibam mais que você!

9- Complexo do messias maluco (autoconfiança messiânica). Visite uma incubadora de empresas ou uma empresa júnior. Converse com a molecada que você encontrar por ali. Você notará, nessa gente, um traço vivo de autoconfiança messiânica que, aos forasteiros menos acostumados, soará como prèsunção, prèpotência e arrogância da juventude. O caso é que empreendedores bem-sucedidos são motivados por uma coisa chamada propósito: algo que eles viram e que você ainda não viu. Volte alguns capítulos desse blog: você ouvir-me-á falando bastante a-respeito de propósito. Pois bem. Os empreendedores desdejam mudar o mundo tanto-quanto o pessoal lindinho da esquerda — a diferença é que os planos deles não envolvem corrupção, ditaduras, controle da imprensa ou milhões de cadáveres. O sonhos deles envolvem, antes, dedicação, criatividade, talento pessoal e muito trabalho. Os empreendedores que acompanhei e entrevistei não têm aquele pudor — tìpicamente brasileiro & vira-lata — de falarem dos próprios talentos. São profissionais extremamente autoconfiantes, que não têm medo de "enfiar a cara" em coisas novas e sabem que são bons. E é claro que isso entra em choque com a "humildade socrática" citada no item acima. 

10- Síndrome do brilho-nos-olhos (entusiasmo e obstinação). O complexo do messias maluco tem um sintoma muito marcado: o brilho nos olhos — sobretudo quando se fala da própria empresa. Eu já disse em capítulos anteriores que o propósito é a confluência entre aquilo que você sabe fazer, aquilo que você gosta de fazer, aquilo que paga suas contas e aquilo que o mundo precisa. Quando você sente um barato desses — desculpem-me pelo vocabulário de maconheiro — ou quando você encontra a missão pela qual você nasceu — perdoem-me agora pelo palavrório de autoajuda — é inevitável que você se envolva pessoalmente, sinceramente, inteiramente com isso. Daí os olhinhos brilham. Entreviste um empreendedor e observe a linguagem corporal dele ou dela. O tronco se inclina para a frente, o peito se abre, os ombros retesam, os braços fazem movimentos grandiosos, as palmas das mãos são mostradas com freqüência, as sobrancelhas arqueiam muitíssimo. Tudo no corpo grita: "eu gosto muito disso, cara! este aí é meu filho, cara!" A síndrome do brilho-nos-olhos é o anestésico que o pequeno empresário toma nos dias difíceis. Mal-comparando, a empresa é seu cachorro badernista: às vezes, ele o deixa furioso, mas você não o doa porque o ama. 

11- Febre de Fígaro (polivalência, versatilidade e flexibilidade). O empreendedorismo não é uma carreira definida. Ele sequer é definível como trajetória. Uma das coisas que eu procurei detectar no doutorado foi um conjunto de caminhos repetitivos, um processo produtivo biográfico, um passo-a-passo que tornaria alguém empreendedor ou microempresário. Pois eu dei com os burros n'água. Não encontrei nada-disso. Entendam: ninguém sai da mãe querendo ser presidente de startup. Aos dez anos, quando os adultos impertinentes lhe perguntavam o que você queria ser quando crescer, você não disse "empreendedor ou microempresário". Em vez disso, você disse: "jogador pereba", "servidor público ladravaz", etc. Brincadeirinha! A trajetória dos empreendedores é caleidoscópica e multifacetada. Além disso, a diversidade de obrigações que eles têm de cumprir nos primeiros anos da empresa força-os a serem polivalentes, versáveis, flexíveis, adaptativos. Não porque assim desejam, mas porque assim são e disto precisam. A satisfação da curiosidade (Mal de Alice) é a recompensa psicológica pelos múltiplos talentos & saberes que eles precisam adquirir. Então, lentor, se você não estiver disposto a fazer a barba, o cabelo e o bigode, procure outra freguesia.

12- Complexo de Rambo (combatividade, competitividade). Não pense, porém, que essas pessoas não tenham foco. Seria impossível administrar uma microempresa se você não mantivesse uma autoconfiança férrea, uma autodisciplina áurea, um controle militar de tudo e de todos, enquanto mil granadas caem à sua volta. Empreendedores divertem-se tanto com a batalha quanto com a vitória. São indivíduos bastante competitivos e, quando batem, batem doído. Vou usar uma metáfora geopolítica. Israel é uma ilha de modernidade & civilização cercada por ditaduras bárbaras que a detestam. ¿Você acha que Israel poderia se dar ao luxo de ignorar as táticas e armas necessárias à sua sobrevivência? Em condições análogas, uma startup é uma pequena ilha de ousadia & inovação cercada por grandes e pesadas empresas — todas com bastante dinheiro (armamentos e provisões), muitos funcionários e fornecedores (soldados) e milhões de cidadãos (clientes) em prontidão para defendê-la. ¿Sabe quando o Rambo (quem tiver menos de trinta anos, informe-se no Youtube) sacava sua bazuca e, enfrentando as saraivadas dos vietcongues, com um único tiro, derrubava hèlicópteros? Então: os empreendedores crêem que podem fazer isto. E alguns fazem isso mesmo!

13- Síndrome de "my way" (orgulho dos próprios fracassos). Responda-me com a sinceridade típica dos moribundos: leitor, ¿você colocaria naquele seu currículo cheiroso & limpinho seus fracassos? Creio que não. Pois no universo das startups, os fracassos são tão comuns e tão pródigos em aprendizado e experiências, que eles acabam valendo tanto quanto o sucesso num currículo. Claro: a quebra duma empresa não colocará sua conta no azul. Dependendo da quantidade de grana que você botou nela, a recuperação será dolorosa e demorada. Além disso, como notei, muitas pessoas narram a falência dum negócio com a mesma intensidade e pungência dramática com que narram a perda dum parente. Dói na pele, no ego e no bolso. Mas quem já quebrou uma empresa na vida sabe detectar os sinais de perigo, a sensação angustiante do descontrole, a velocidade terminal da longa queda. Deixe-me fazer uma pergunta profunda: ¿Você acha que a experiência de conhecer o que há do outro lado da morte vale o preço da sua vida? Hum... resposta difícil... Mas o empresário ex-fracassado é o sujeito que morreu e voltou para contar o que há do outro lado da queda. Infelizmente, nossa cultura é hostil a muitas coisas; dentre elas, aceitar e aprender com o fracasso. 

14- Doença de Gerson (senso muito agudo de necessidades e oportunidades). Há inovações porque há pessoas, há problemas, há dinheiro. Pessoas com problemas e dinheiro são o ponto arquimediano do empreendedorismo. E os empreendedores são gente atenta às oportunidades trazidas por tal combinação. Alguns inovadores que acompanhei descreveram seu processo criativo como uma espécie de transe, no qual idéas soltas, métodos e técnicas, modelos e esquemas, conceitos e imagens que, inicialmente, nada tinham em comum, namoravam loucamente até se juntarem e se cruzarem em combinações inusitadas. Tais sínteses malucas, por sua vez, entravam em sintonia com problemas reais de indivíduos reais. ¿Eis um negócio viável? Talvez. Depois dessa etapa, as faculdades analíticas da razão entravam na história para cumprir com suas árduas tarefas de detalhar e de planejar o negócio. Repetido várias vezes, esse processo transforma-se na segunda natureza do empreendedor. Ele então se torna um detector de mercados, um periscópio de insatisfeitos, um radar de clientes, um desbravador de oportunidades. E então, leitor, ¿você acha que já possui ou é capaz de desenvolver algumas dessas catorze características? Então, bem-vindo ao clube!

Até-mais-ver!

¿QUEM É JOHN GALT?

terça-feira, 10 de novembro de 2015

DICA DE LEITURA 4

Olá, filhos do carbono e do amoníaco, monstros de escuridão e rutilância! (Augusto dos Anjos) ¿Vocês sabiam que eu tenho uma cachorra chamada Pachorra? Bom... é mentira que eu tenho uma cachorra; mas é verdade que eu tenho uma baita pachorra. Pois saibam vocês que eu tive a pachorra de ler os quatro volumes da série Atitude, do Justin Herald. Sinceramente, eu teria gasto melhor meu tempo lendo a biografia de outro Justin: o Bieber! Aviso: sarcasmo.


Uma das minhas missões nesse mundo virtual de meu-deus, caro leitor, é livrá-lo de ciladas. Eu sou o seu Pedro, Bino! E eu já disse aqui que essa crise — que certamente atravessará esta década e a próxima— fará com que muita gente caia no engodo do enriquecimento via empreendedorismo. Mas o titio aqui é um estraga-prazeres mesmo, pois vive dizendo que as coisas não são tão fáceis & rápidas quanto parecem, ou quanto alguns gurus fazem parecer.

Numa das minhas postagens-relâmpago, falei das quatro coisas que me irritam em livrinhos supostamente dedicados à autoajuda para empreendedores. Resumi esses aspectos assim: complexo de pseudo-midas (promessa de pròsperidade instantânea), síndrome do vamos-que-vamos (motivação fundada em palavrório oco), transtorno da dança nas nuvens (abstrações afastadas da realidade) e mal de Acácio (trivialidades presunçosas, óbvias e balofas).

Pois saibam que Justin Herald consegue o prodígio de reunir os quatro vícios numa série de quatro livros chamada Atitude. Diga-se, aliás, que todos os livros falam sobre a mesma coisa: quão incrível é o autor e seu negócio — uma empresa de camisetas com frases de motivação que fariam Gabriel Chalita parecer Friedrich Nietzsche. O simples desperdício de tanto papel com tão pouco conteúdo já denota — ¿como posso ser sutil? — certa falta do que fazer.

Pois eu recomendo vivamente a leitura dos volumes de Atitude de Justin Herald — como um contra-exemplo de tudo o que não deve ser um guia para empreendedores. Em sua trivialidade, ingènuidade e superficialidade repetitiva e irritante de redação de colégio, Atitude é um tapa na boca da nossa inteligência. Tratam-se daqueles livros que o surpreendem pelo anticlímax; que você termina de ler com um gostinho de quero-mais: quero mais que se f...!


HERALD, Justin. "Atitude. Volumes 1 a 4". São Paulo: Fundamento, 2011.


DEPOIMENTOS:

"Graças aos interessantes & relevantes livros de Justin Herald, eu tomei uma bela atitude na vida: furei meus olhos — todos os três! — para jamais ter de ler coisas assim."
Professor Felizardo Síncope.

"Eu descobri que o analfabetismo tem lá suas vantagens: você não é obrigado a votar nem a ler livrinhos de autoajuda. Pena que só descobri isso depois do doutorado."
Doutor Galindo Pinto.


DESAFIOZINHO 4

Olá, apátridas de si-mesmos! Voltei com mais um desafio do baralho (eu escrevi baralho) — daqueles que eu devia botar nas provas finais dos meus alunos. Antes-de-mais-nada, devo lembrá-los que o desafiozinho anterior ainda continua insolúvel como óleo n'água. ¿Nenhum cérebro-de-detergente dispor-se-á a resolvê-lo? Pois bem. Na semana passada, vocês também devem ter notado que eu lancei aqui uma nova seção: a caixinha de ferramentas. A primeira foi um diagrama inventado por mim-mesmo e pedantemente denominado ferramenta para priorização de decisões concorrentes. 

Tratam-se de três hexágonos (um dentro do outro), representando os três níveis possíveis de gravidade dum problema: baixo, médio e alto. Os lados desses hexágonos são divididos em três pares de parâmetros, representando as avaliações possíveis que você deverá fazer do tamanho do problema, segundo sua urgência, conseqüência e complexidade. Cada hexágono permitirá que você compare dois problemas ao mesmo tempo — seja pela área do polígono formado por problemas com três variáveis, seja pelo comprimento das retas formadas por problemas com duas variáveis. 

Com isto, pode-se avaliar melhor qual problema deverá receber prioridade, dedicação e maior ou menor quantidade de recursos. Parece complexo, mas a idéia é que o uso continuado dessa ferramenta, com o tempo, internalize o raciocínio estratégico em você. Ninguém gosta de ficar que-nem cachorro em dia de mudança quando dois problemas importantes aparecem ao mesmo tempo; e ninguém gosta de ficar paralisado pelo pânico ou pela angústia. Caso você não tenha entendido bulhufas, peço para que retorne à publicação de quinta-feira passada e releia a explicação original. 

O desafiozinho que eu proponho é o seguinte: atenção. Considere os dias-de-cão abaixo. Em cada um deles, dois abacaxis competem por prioridade. No dia-de-cão 1, sua principal matéria-prima está travada na alfândega, mas ainda há estoques dela para uma semana. Tem mais: seu contador pediu demissão (que sapeca!), seus impostos estão atrasados e você não entende nada dessa área. No dia-de-cão 2, seus telefones tocam sem parar porque uma notícia ruim saiu na imprensa sobre sua empresa. Além disso, um fornecedor (que maroto!) descontou um cheque pré-datado seu antes da hora. 

As descrições dos problemas estão na própria imagem. Clique-a para ampliá-la. As perguntas são as seguintes: 1) ¿Quais dos diagramas na imagem à direita representam, respectivamente, os dois problemas do dia-de-cão 1 e os dois problemas do dia-de-cão 2? 2) Justifique as escolhas que você fez na resposta anterior. 3) Considere agora que você é um pequeno açougue. No dia-de-cão 1, ¿a qual problema você daria a prioridade e por quê? Para o dia-de-cão 2, faço-lhe a mesma pergunta: ¿a qual problema você daria a prioridade e por quê? Então, que comecem os jogos!


Desafiozinho estratégico de priorização de decisões concorrentes.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

POSTAGEM-RELÂMPAGO 9


1- Ah, leitor! Você não tem idéia de quantas & quantas vezes eu retornarei a esse tema do peru: os sócios. Ah, os sócios! Conflitos com sócios sempre figuram na lista top-10 dos motivos mais comuns pelos quais uma pequena empresa soçobra. 

2- Antes-de-mais-nada, saiba que seu sócio é alguém com quem você dividirá sua ìntimidade, suas confidências, seu patrimônio, seu futuro, seus sonhos, sua rotina, seu lucro e muitas outras coisas que eu tenho vergonha de dizer aqui.

3- Seu sócio deve ter o mesmo propósito, a mesma visão-sonho, os mesmos valores morais e os mesmos objetivos estratégicos que você tem; mas ele não é obrigado a ser idêntico a você em tudo! A sòciedade é a diferença que se completa.

4- Bons sócios suplementarão suas habilidades deficitárias, trazendo ao negócio os recursos, talentos & saberes que, de outra forma, você precisaria internalizar contratando funcionários-problema, estagiários tapados e consultores do Satanás.

5- Saiba tudo sobre seu sócio. Eu disse tudo! — principalmente o passado. Tenha sempre aquela conversa com ele. Você não vai querer ser surpreendido, um dia, por uma ex-mulher ou amante grávida, reclamando metade da sua empresa.

6- É tentador chamar para a sòciedade alguém que apenas entrará com o dinheiro — justamente quando seu negócio mais precisa de capital-de-fôlego. Pois saiba que são os bons sócios que, naturalmente, atrairão o dinheiro, e nunca o oposto.

7- O sócio rico, aliás, poderá fazê-lo cair na mesma armadilha em que Maquiavel afirmava caírem os aliados fracos de príncipes poderosos: se ambos perderem, você levará a culpa; e se ambos ganharem, ele levará o crédito... e você de-brinde. 

8- Entre um sócio com muito dinheiro e um sócio com muitos contatos, eu escolheria — sem sombra de penumbra — o sócio com muitos contatos! Gente-que-conhece-mais-gente é como um canivete-suíço no meio do mato, pronto para salvá-lo.

9- Entrar em sòciedade com uma pessoa sem passado ou com passado obscuro é o mesmo que apostar às-cegas em alguém cujos segredos poderão vir à-tona e comprometer fatalmente a reputação, o patrimônio e a estabilidade da sua empresa. 

10- Comprometa seu sócio com o sonho que vocês estão construindo. Certifique-se de que ele não esconde nenhum plano-b que poderá frustrar ou pôr fim repentino à sòciedade: concurso público, viagem para o exterior, divórcio, casamento, etc.

11- Tome muitíssimo cuidado com pessoas que se fazem de vítimas ou vivem bolando campanhas de marketing para vender as próprias "virtudes morais". Na maioria dos casos, tratam-se de vigaristas disfarçados de santos vigários.

12- Uma corrente é tão forte quando seu elo mais fraco. O mesmo se dá com as sòciedades. Portanto, fique atento com as idiossincrasias, manias, taras, falhas e fraquezas-de-caráter do seu sócio: é nesse elo que a corrente empresarial arrebentará.

13- Boas sòciedades surgem de momentos limítrofes, nos quais a lealdade dos parceiros foi testada em condições reais. Então, responda-me: ¿Quem o ajudou a carregar sua última barra-pesada? ¿Quem se manteve firme ao seu lado? Pois este é seu sócio!

14- Vou citar aqui apenas cinco características inegòciáveis dum bom sócio: ele é leal, ponta-firme, disciplinado, comprometido e polivalente. O bom sócio vai brigar por você e com você — como um cão-de-guarda — desde o início.

15- Escolha um sócio com perfil rico, diversificado e caleidoscópico. Mas veja se ele é constante pelo-menos em seus valores & metas. Certifique-se de que seu sócio é alguém que sabe o que espera e deseja da vida... a age conforme o que fala.

16- Pessoas emotivas são geralmente apaixonadas e entusiasmadas — e isto é bom. Mas elas são instáveis e podem ser carentes e mimadas — e isto é mau. Uma empresa com duas pessoas assim vive numa eterna montanha-russa com drogados.

17- Pessoas racionais são objetivas, controladas, ponderadas e geralmente dão excepcionais administradoras e estrategistas — e isto é ótimo. Mas costumam ser entèdiantes, demasiado cautelosas e pensam "dentro da caixa" — e isto é um saco!

18- Eu daria prèferência a pessoas que já tivessem administrado um negócio anterior — e o quebrado! Isso mesmo: alguém que já quebrou uma empresa sabe detectar os sinais de perigo. E você precisará dum bom sensor anti-incêndio por perto.

19- Formar sòciedades com parentes é uma cilada, Bino! Eu tenho uma tese: cada vez que casais ou irmãos formam uma sòciedade, em algum lugar do planeta, um advogado brilha seus macabros olhos vermelhos e exala um forte cheiro de enxofre.

20- As pequenas empresas são detergentes concentrados: nelas, qualquer alteração homeopática gera resultados exponenciais — para o bem ou para o mal. Então, cuidado: sua startup terá a sua cara... ou a média entre a sua cara e a cara do seu sócio.

21- Agora o óbvio: procure para sócia uma pessoa que você respeite e admire; e que o respeite e o admire. Uma pessoa com a qual você goste de passar o tempo e que lhe inspire cùmplicidade e tranqüilidade. Não: não precisa casar com ela!

22- Enfim: procure alguém que tenha sido bastante amado na infância, que tenha gostos alternativos e contraculturais, que tenha um lado contemplativo ou meditativo, que tenha o dedo anelar maior que o dedo ìndicador (procurem saber o porquê).

Até-mais-ver!

domingo, 8 de novembro de 2015

FRASES DA SEMANA 6



"O EMPREENDEDOR DEVE SEMPRE SE PERGUNTAR O QUE O CLIENTE DESEJA — E TORCER PARA QUE ELE NUNCA RESPONDA."

Doutora Paty Farias, especialista em programação neurolingüística. 


"OS CLIENTES QUEREM CÒMODIDADE, EXCELÊNCIA E PREÇO BAIXO. RESUMINDO: OS CLIENTES QUEREM QUEBRAR SUAS PERNAS!"

Professor Natan Satan, fisioterapeuta e engenheiro aeronáutico.
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