sábado, 24 de outubro de 2015

FRASES DA SEMANA 1



"EMPREENDER É A DECISÃO DE SÓ CAIR POR CAUSA DAS PINGAS QUE VOCÊ-MESMO TOMOU. ENTÃO, SAÚDE!" 

Doutor Pelúcio Severo, astrólogo, homeopata e coach.


"O SUCESSO É APENAS A PARTE VISÍVEL DE ALGUMA RENÚNCIA... PRINCIPALMENTE DA RENÚNCIA FISCAL."

Doutor Raimundo Galático, ufólogo, agrônomo e auditor contábil.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

POSTAGEM-RELÂMPAGO 4


1- Eu não estou aqui para enganá-lo com unicórnios & duendes (embora eu já tenha visto ambos). Os gurus vão lhe entoar mil cânticos a-respeito das vantagens de se formalizar um negócio desde o início. Afinal, o governo precisará sempre dum novo estoque de otá..., quer dizer, de empresários entrantes para poder sugar.

2- Claro que há vantagens na formalização duma empresa. Uma delas é a possibilidade de você se tornar um fornecedor para o próprio governo — o que certamente lhe trará um belo volume de vendas e um ganho-de-escala nada desprezível; é claro, desde que você seja capaz de satisfazê-lo e vencer uns editais marotos. 

3- Mas uma formalização apressada do seu negócio poderá enredá-lo em constrangimentos burocráticos, tributários, trabalhistas e contábeis que serão fatais no início da sua empresa. Para começo de conversa, a formalização vai colocá-lo nas mãos de advogados & contadores e, depois, nas garras do governo.

4- Portanto, ao abrir seu novo negócio, tente permanecer na informalidade o máximo de tempo que você conseguir. Assim que sua empresa passar pelo radar do Estado, ele tentará tosquiá-la com impostos egípcios e papelório soviético até que você morra ou peça-arrego. Pequenas empresas, grandes impostos!

5- Informalidade não é ilegalidade. Aliás, atuar como informal, muitas vezes, é a única saída para que sua empresa iniciante sobreviva aos fatídicos três primeiros anos. Portanto, crie vínculos estreitos de confiança e excelência com seus clientes diretos e parceiros próximos. Ofereça-lhes crèdibilidade e não documentos.

6- Crie uma boa rede de relacionamentos, comprometa seus fornecedores, consiga clientes por indicação, busque ser recomendado por oferecer serviços impecáveis, resolva problemas extras dos seus clientes, mime-os até o enjôo! Estas são formas de se inspirar confiança no mercado e construir reputação sem formalização.

7- O Estado brasileiro sempre foi uma sanguessuga com anabolizantes. Porém, nas mãos do PT, ele se transformou num tumor maligno que vai comê-lo por dentro! Você não vai querer trabalhar como um escravo e apostar todas as suas fichas numa empresa que servirá, depois, de butim para piratas e ladrões. ¿Vai? Não, não vai.

8- Antes da decisão de se formalizar, 1) calcule se seu fluxo-de-caixa suportará os impostos envolvidos; 2) estude o melhor arranjo societário para sua empresa, baseando-se na quantidade de funcionários, sócios e lucro e 3) escolha o arranjo que lhe trouxer a menor carga tributária (você poderá mudá-lo depois).

9- Muitas vezes, o funcionamento do seu estabelecimento envolverá a aquisição de licenças. alvarás, vistorias, fiscalizações, autorizações, certificações, normas técnicas, protocolos de segurança e outros documentos para cujo acesso será imprescindível a formalização prévia da empresa. Faça isso! Não brinque com as leis!

10- Geralmente, sua formalização exigirá: 1) inscrição na Junta Comèrcial ou no Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas; 2) inscrição na Receita Federal (para o CNPJ); 3) inscrição estadual na Secretaria da Fazenda (para o ICMS); 4) pedido de alvará na prefeitura e 5) cadastro na Previdência Social. Isso só para começar.

11- Tratarei, em momento oportuno, dos detalhes burocráticos da abertura duma empresa aqui na República de Pindorama. O SEBRAE oferece orientações mais detalhadas sobre a documentação exigida e o caminho-das-pedras para a formalização das pequenas empresas. Vejam o link no canto esquerdo do blog (línks úteis).

Até-mais-ver!

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

DESAFIOZINHO 1

Crianças, vamos ver se vocês raciocinam como estrategistas cabras-da-peste. Considerem a imagem abaixo. Ela representa cinco empresas (A, B, C, D, E) disputando um mercado cuja amplitude (número de clientes) está limitado pelas setas. O mercado tem a cor azul-claro. A cor representa o "clima atual" desse mercado, quer dizer, o que seus clientes desejam no momento. Esse mercado pode expandir ou contrair (setas); ele também pode mudar sua cor de-repente. Mas você não sabe de nada disso agora. 

Percebam que a empresa A está totalmente fora do clima. Sua cor é a mais destoante do mercado. A empresa C, por sua vez, é a maior, por ser a mais sintonizada com o mercado. As empresas B, D, E não são nem totalmente sem-noção (como a A), nem perfeitamente sintonizadas (como a C). A forma como essas empresas estão situadas no mercado faz com que haja uma sobreposição entre A e B. Provàvelmente, a empresa A oferece a seus clientes alguns produtos ou serviços que a empresa B também oferece. 

Além disso, a posição atual dessas empresas criou três nichos de mercado, quer dizer, três grupos de clientes ou três demandas represadas que não estão sendo satisfeitas por nenhuma dessas empresas. O desafio é o seguinte: imaginando que você queira abrir uma firma para atuar nesse mercado, considerando os dados que você tem hoje e as projeções que consegue fazer para o futuro, ¿em qual dos três nichos você entraria: o nicho 1, o nicho 2 ou o nicho 3? Usem o espaço de comentários para responder. Isto é uma ordem!

Até-mais-ver!

Configuração de mercado com cinco empresas e três nichos.

DICA DE LEITURA 1


Olá, crianças! Estou inaugurando uma nova seção deste blog. Pretendo-lhes indicar um livro por semana ou quinzena, fazendo breves comentários abonadores ou não. O primeiro é este: Manual do empreendedorismo: 74 dicas para ser um empreendedor de sucesso, do Bruno Tucano, ops, Caetano. O livro é um pequeno manual de pegue-e-faça para empreendedores. Não é uma obra analítica ou teórica; é prática e para consultas simples. Tem dicas pontuais e muitíssimo importantes sobre como abrir e gerir um negócio próprio. O autor demonstra realmente entender dos meandros burocráticos, tributários e etc. & tal. Ele trata de quase todos os aspectos da questão e — vantagem! — é adaptado à realidade brasileira, indicando onde e como achar ferramentas gratuitas para gerenciamento de microempresas. Os capítulos são bem curtos e bastante acessíveis. Mas há dois poréns: 1) o autor foca demais nos serviços do SEBRAE e 2) ele restringe muito sua análise aos negócios com baixa densidade tecnológica, quero dizer, às pequenas lojinhas, comércios, etc. Isto não é bem um demérito, certamente, pois a esmagadora maioria das microempresas brasileiras enquadram-se nesse grupo. O caso é que Bruno Tucano, ops, Caetano não dá a devida ênfase ao empreendedorismo tecnológico e universitário — que é o foco deste blog. Eu recomendo o livro como uma introdução bàsicazinha. Confira abaixo as avaliações dos nossos consultores.

CAETANO, Bruno. "Manual do empreendedorismo: 74 dicas para ser um empreendedor de sucesso." São Paulo: Gente, 2014. 176 páginas. R$ 19,90.

DEPOIMENTOS:

"¿Por que ele parou na dica setenta-e-quatro? ¿Por que ele não foi até a dica setenta-e-cinco? Eu não sei o que há com esse cara, mas não é nada bom!
Doutor Sigismundo Baratinha.

Acho que vou comprar milhares de exemplares desse livro e despejá-los de helicóptero nas repartições públicas. Que terrível atentado farei! 
Doutor Galindo Pinto.

CAPÍTULO 6- EMPREENDEDORES POR NECESSIDADE OU OPORTUNIDADE

Se a vida lhe der uma limonada, cuidado: pode ser um limão!

Olá, crianças! Na semana passada, eu lhes propus a seguinte enquete marota: Nas atuais condições da economia, se você abrisse seu próprio negócio, você procuraria: a) Fazer algo diferente de tudo o que já existe no mercado, mesmo correndo riscos; b) Fazer o que o mercado demanda, seja lá o que o mercado realmente demande; c) Fazer o que eu já vinha fazendo no emprego, porque é isto o que sei fazer melhor; d) Fazer só o que eu gostar muito, porque já bastava os sapos que eu engolia no emprego e e) Fazer algo que me dê dinheiro, porque não sei até quando essa crise vai durar. Aqui vão os resultados. Apesar da amostra ser bem pequena, concluímos que dos oito respondentes, 50% optaram pela alternativa e: empreender para ganhar dinheiro, devido à atual crise. E os outros 50% distribuíram-se entre as opções a e b: ambas versavam sobre satisfazer as demandas do mercado. Estas opções têm nomes; elas correspondem à tipologia do empreendedor. Eis o que pretendo tratar nesta postagem.

A bibliografia sobre o tema consagrou a existência de dois tipos de empreendedores: os que empreendem por necessidade, ou seja, os que abrem o próprio negócio como alternativa ao desemprego ou complemento à renda pessoal e familiar; e os que empreendem por oportunidade, ou seja, os que reconheceram uma lacuna ou nicho no mercado e, por meio dum planejamento estratégico, marketing e inovações, desejam satisfazer tais demandas represadas, oferecendo novos produtos, processos ou serviços. Considera-se ainda que o empreendedorismo por oportunidade é mais saudável e promissor que o empreendedorismo por necessidade, uma vez que, neste último caso, a abertura da empresa não costuma ser antecedida por um planejamento ou por estudos sobre a viabilidade financeira e técnica do negócio. Exposto a tantos riscos ocultos, fràgilizado pela prècondição econômica e sem as hàbilidades gerenciais, o empreendedor por necessidade costuma engrossar as estatísticas de falência. 

A pesquisa mais recente realizada pelo GEM em 2014 (link no blog) apontou que 71% dos empresários brasileiros empreendem por oportunidade, ao passo que os outros 29% empreendem por necessidade. Tais números são auspìciosos, uma vez que a mesma pesquisa, feita em 2002, chegou aos seguintes resultados: 42% por oportunidade e 58% por necessidade. Por um lado, isto significa um acréscimo de qualificação e planejamento do pequeno empresário brasileiro. Por outro lado, acredito que esta pesquisa de 2014, feita com dados de 2013, ainda não captou os sinais da crise atual. Infelizmente, um dos efeitos das crises é baixar a média de qualificação dos empreendedores (predomínio da necessidade) e diminuir a capacidade de sustentação e a qualidade dos negócios abertos, uma vez que, com o objetivo urgente de ganhar dinheiro, muitas pessoas ingressam em mercados sem conhecê-los bem e sem antecipar todas as variáveis envolvidas: impostos, burocracia, clientes, demanda, legislação, concorrência, fornecedores, etc (mapeamento das oportunidades). A necessidade é a mãe da invenção, mas é a madrasta do planejamento.

Eu não ficaria surpreso, portanto, se a crise atual alterasse os valores das próximas pesquisas do GEM. O que o empreendedor universitário tem a seu favor, porém, é o tempo do curso, durante o qual ele poderá se preparar (econòmicamente e intelectualmente) para empreender. E aqui vão alguma dicas: 1) Use a faculdade ou a empresa em que você estagia hoje como uma espécie de casulo, dentro do qual você poderá incubar suas idéias de negócio. 2) Uma faculdade não serve apenas para você aprender conteúdos; serve também para "aprender pessoas": faça o máximo possível de contatos. Seu colega de classe poderá ser seu futuro sócio ou cliente. 3) Consulte seus professores & orientadores sobre a viabilidade de transformar seu chato e inerte TCC num plano de negócios imbatível. 4) Não durma no ponto: sugue ao máximo seus mestres e aprenda muito bem aquelas matérias cujo conteúdo será imprescindível para seu empreendimento. 5) Estabeleça para si-mesmo pequenos pacotes de trabalho, quer dizer, metas curtas que você poderá cumprir já! 6) Trace um plano de carreira que preveja a possibilidade de você se transformar num empreendedor. Boa sorte e força-na-peruca!

Até-mais-ver!

¿QUEM É JOHN GALT?


Evolução dos tipos de empreendedores (oportunidade e necessidade), conforme pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

CAPÍTULO 5- CIÚMES DE AUTORIA: A DOENÇA INFANTIL DO EMPREENDEDORISMO

Vou lhe contar uma novidade: nada sob o céu é novo.



Vamos recapitular alguns pontos das minhas postagens anteriores. Primeiramente, eu lhe disse que empreender pensando sòmente no dinheiro fácil & veloz, ignorando seus propósitos, é uma fria — tanto financeira como psicológica. Para começo de conversa, sua vida vai se transformar num cemitério bem-administrado e, quem-sabe, próspero. Mas ao abir sua firma num ramo que você odeia ou ignora, diante do primeiro obstáculo surgido (e acredite: surgirão inúmeros!), você será incapaz de enxergar o sonho detrás da curva, o propósito detrás da dificuldade. Você fraquejará, arrepender-se-á ou abrirá suas portas da firma, todos os dias, como um zumbi que sai da tumba. Toda semana, sua segunda será uma torcida para o domingo. Você não terá aquele ziriguidum, aquele entusiasmo necessário para contaminar sua equipe e sócios, convencer seus clientes e parceiros. Você não terá motivos para levantar da cama cedo. ¿Você quer isso?

Em segundo lugar, eu lhe disse que seu propósito está na confluência de quatro fatores: aquilo que você gosta de fazer, aquilo que você é bom fazendo, aquilo que lhe dá dinheiro e aquilo que o mundo precisa. (Falaremos longamente, noutro tópico, sobre este último aspecto: as demandas do mercado, o perfil do cliente, seu nicho, etc.). Outra maneira infalível de se descobrir seu propósito é perguntando-se: ¿Contra quem ou contra quê eu luto? ¿Quem é seu Darth Vader pessoal? São perguntas complicadas, às quais nós não damos a devida atenção — ou porque não vivemos, sòmente existimos; ou porque agimos no piloto automático do quotidiano; ou porque permitimos que a sociedade nos transforme em objetos de cenário dos sonhos alheios. Mas a-partir do momento que você encontra seu propósito, verá que será capaz de definir melhor seu objetivo, para daí decompô-lo em metas de curto, médio e longo prazos.

Um exercício simples que eu lhe proponho é o seguinte: escreva num papel: 1) o que você deseja possuir, 2) quem você deseja ser e 3) onde e com quem você deseja estar daqui a dois anos, cinco anos, dez anos e vinte anos. Depois, embaixo, faça uma lista de metas que você precisará realizar para conquistar cada um dos três objetivos elencados. Em seguida, compare seus objetivos com seu propósito; veja se eles estão em sintonia perfeita. Reavalie também o quanto você precisará se afastar do seu propósito para cumprir aquele objetivo por meio das metas. Exemplo: meu propósito é que as pessoas controlem suas finanças pessoais. Para isso, meu objetivo será criar uma consultoria financeira de baixo-custo para auxiliá-las. Dentro de vinte anos, eu desejo ser uma referência internacional em finanças pessoais. Minhas metas são: 1) ter uma qualificação de excelência nessa área; 2) ter um blog ou site; 3) criar uma linha de serviços em finanças, etc.

Em terceiro lugar, eu lhe disse que o propósito tem um lado negro, que é o ciúme de autoria: a dificuldade d'o empreendedor deixar seu "filhote" crescer sob os cuidados de outras pessoas que poderão auxiliá-lo no desenvolvimento e escalabilidade do produto, processo ou serviço. O ciúme de autoria está ligado à idéia de posse, à idèntificação fortíssima que o empreendedor tem com seus sonhos iniciais. Para não abdicar do controle do negócio, o empresário preferirá podá-lo para que ele não cresça além do alcance dos seus braços & olhos, mantendo-o numa estufa de bonsais, envolvendo-se pessoalmente e febrilmente com todas as atividades da empresa — desde varrer o chão até prospectar parcerias. Chega uma hora, porém, que o sujeito não agüenta: ele descobre que abandonou um emprego ruim para administrar um emprego pior... e do qual não pode tirar férias!

Há ainda outros dois perigos ocultos detrás desse ciúme; e eles são muito comuns nos empreendedores universitários: O primeiro é a ilusão de que você teve uma idéia tão gènial que não deverá revelá-la a ninguém, muito-menos àqueles que poderiam ser seus parceiros. Então você dirá: "Eu sou um gênio cercado por delinqüentes intelectuais que certamente roubarão meus lindos sonhos." O segundo é a recusa em fazer pequenas adaptações à sua invenção original para que ela corresponda às necessidades e expectativas dos clientes reais de agora. Então você dirá: "Pouco importa que ninguém queira comprar meu ônibus movido a antimatéria, inventado após anos esforço!" ¿Entendem o problema? O inovador preferirá guardar segredo da sua invenção temendo que alguém a roube, mas, com isto, jamais conhecerá os parceiros que o ajudarão a torná-la real. E ele preferirá que ela continue sendo apenas uma idéia, para a vê-la conspurcada pelas necessidades impertinentes do mercado.

Mas agora, leitor, você deve estar se perguntando, desconfiado: ¿mas não há mesmo risco d' as minhas idéias serem roubadas por terceiros? Respondo: sim, há! As pessoas roubarão suas idéias se você só dispor disso: idéias, sem juntá-las com as conexões e parcerias que levá-las-ão a-diante, sem o planejamento estratégico que transformará sua a invenção de num negócio lucrativo. Ademais, idéias são uma das coisas mais abundantes na sociedade. As pessoas vivem tendo idéias o tempo inteiro. Claro: nem todas-elas são sempre viáveis. (Aliás, leitor, ¿você já considerou a hipótese d' este ser o caso da sua idéia?) A diferença específica do empreendedor, contudo, é que ele, ao redor daquela idéia, construirá todo um emaranhado sociotécnico de outras idéias, coisas, pessoas, recursos, instituições, propósitos e demandas — tudo-isso muito bem urdido e gerido. Esta é a função insubstituível do empreendedor: não é ter idéas; é juntar os componentes para sua concretização.

É preciso que isto fique bem claro: nem sempre o empreendedor é o sujeito da inovação. Há inovadores aos milhares, mas poucos conseguem concretizar seus projetos, porque carecem das habilidades estratégicas, dos conhecimentos administrativos, da visão global, da inteligência relacional & emocional e das características comportamentais (tratarei disso noutra ocasião) que peculiarizam um empreendedor. Reparem: a taxa de sucesso das idéias é superior à taxa de sucesso dos negócios criados a-partir delas, uma vez que, neste último caso, a quantidade de variáveis cujo controle é preciso garantir para o sucesso do negócio demandará a presença dum tipo de profissional diferente do pesquisador acadêmico. O pesquisador típico só precisará se preocupar com as variáveis interiores ao laboratório, ao passo que o empreendedor terá toda a sociedade como "laboratório". Imagine, então, o número de variáveis-incógnitas em meio às quais ele estará enredado.

Saiba duma coisa, leitor: você nunca conseguirá — solitário, isolado — levar à frente seus planos caso não os comunique às pessoas que partilham dos mesmos propósitos que você. Essas pessoas têm nomes: parceiros, clientes, sócios, fornecedores, investidores, stakeholders, etc. Para tanto, você deverá calçar os sapatênis da humildade e não se iludir tanto sobre o pretenso inèditismo das suas inovações. Precisará, além disso, tomar algumas doses de confiança no semelhante (embasadas em argumentos e networking) para dizer a seus parceiros, afinal, o que, por que, para quem, como e onde , você deseja fazer. Por fim, você precisará exercitar o desapego e abrir-mão dalgumas especificações originais do seu produto, processo ou serviço para que ele se adeque não às fantasias do seu ego acadêmico, mas às necessidades e expectativas dos consumidores do aqui-e-agora.

Exemplos: ¿Para que perder seu tempo desenvolvendo o teletransporte, se seus clientes só precisam duma esteira transportadora? ¿Por que esperar ganhar dinheiro amanhã com a fusão a-frio, se você pode enriquecer hoje com microondas? (Ok, os exemplos são cretinos, mas você entendeu a mensagem). Pior: para o empreendedor universitário que passou anos & anos desenvolvendo suas idéias num laboratório, as mudanças necessárias, feitas para atender ao mercado, são sentidas como um rebaixamento mèdiocrizante, um tiro no ego, uma intromissão intolerável, um contrato faustiano com a burrice, etc. Devido ao ciúme de autoria, é difícil para muitos aspirantes a Thomas Edison resignarem-se com fato de que as máquinas milagrosas que inventaram não são aquilo que seus clientes desejam agora. Afinal, diferentemente da universidade, o mercado real não é o mundo do custo zero, do tempo longo e do risco nulo. Nas próximas postagens, falarei sobre como reconhecer oportunidades nas lacunas do mercado.

Até-mais-ver!

¿QUEM É JOHN GALT?

terça-feira, 20 de outubro de 2015

FÓRUM LIVRE E SUGESTIONÁVEL 2


Olá, crianças! Fiquei com saudades de todos-vocês! Mentira! Este blog está fazendo uma semana de nascença. Tivemos seiscentas-e-vinte visitas desde então — o que é surpreendente, considerando 1) a especificidade do assunto tratado e 2) o fato d' eu não tê-lo divulgado nem entre minhas turmas de alunos. (É que eu sou um rapaz tímido. Mentira!) Pretendo divulgá-lo melhor. Ao menos, minha mãe saberá! Mas ora vejam: ou há uma demanda represada sobre o tema, ou eu mirei no que vi e a certei no que não vi, ou o fato d' eu revisar dez vezes o que eu escrevo tem surtido algum efeito — nem que seja estético-estilístico. Descobri que tenho leitores na Índia (uma vaca), nos EUA, na Alemanha e na Venezuela. 

Vocês perceberam que minhas postagens mais compridas são escritas numa seqüência cronológica. O objetivo é que os textos acompanhem passo-a-passo o empreendedor, desde o início: começando com a definição do propósito, dos sonhos e das metas; a elaboração do desenho de negócios e do planejamento estratégico; o conhecimento detalhado do público-alvo; a escolha da marca e do nome da empresa; a focalização do nicho do mercado; a estratégia de marketing; questões relativas a finanças, tributos, busca de sócios, arranjo societário e por aí vai. Intercaladas com esses textos, temos as postagens-relâmpago, com dicas mais curtas, voltadas para empreendedores que já estão com o pé na estrada. 

A coisa ainda está muito no início. Estou me famìliarizando com as tecnologias envolvidas, e este blog terá novidades brevemente. Pretendo convidar colegas meus/maus para escreverem a-respeito, compartilhando seus conhecimentos ou contando suas histórias. Colocarei aqui resenhas de livros úteis. Quando a cirurgia que fiz para ter o beiço da Angelia Jolie cicatrizar, botarei vídeos meus aqui também. Usem o espaço dos comentários contribuindo com dicas! Outra coisa que vocês já devem ter reparado, é que, como eu sofro de transtorno obsessivo-compulsivo, meus parágrafos têm sempre o mesmo tamanho. Por isso, estou enrolando vocês para que este parágrafo tenha o mesmo número de linhas dos demais.

Obrigado & até-mais-ver!

¿QUEM É JOHN GALT?

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

CAPÍTULO 4- AUTOAJUDA EMPREENDEDORA: ¿VALE-A-PENA LER ISSO?

¿Você não acha estranho pedir autoajuda para os outros?


Um dos ossos do meu ofício, pesquisando os empreendedores, é ler com sincera àvidez as biografias dos autodenominados gurus do empreendedorismo. Parte da vasta literatura disponível sobre o tema enquadra-se naquilo que chamamos de autoajuda.  Muitos desses gurus enriqueceram repentinamente e, por isto, afirmam ter alguma fórmula mágica com a qual seus leitores também poderão enriquecer ràpidinho. Veremos abaixo em que auto-ilusão fundam-se essas obras. Já disse aqui — e reitero — que ganhar dinheiro depressa é um dos mitos mais enganadores e vastamente apregoados pela literatura de autoajuda nessa área. Revistas, livros, artigos, notícias e programas de televisão — todos repetem o mesmo mantra e, às custas de exibir as glórias do ofício, escondem as dificuldades e armadilhas, que são muitíssimo mais freqüentes. Também já disse aqui que abrir o próprio negócio pensando sòmente no dinheiro é um caminho seguro para o abismo. Ok? Depois não digam que eu não avisei. Prossigamos.

Nos países de língua inglesa, esse discurso de riqueza tem reminiscências religiosas profundíssimas. A doutrina protestante via o progresso material como fruto do exercício da vocação que, ao mesmo tempo, era um ato de disciplina ascética para a expiação dos pecados e uma técnica de verificação do status de salvo do sujeito. A riqueza conseguida era, assim, uma espécie de ok divino ao fiel ànsioso pelo paraíso. Nos países de língua latina, porém, o mesmo canto-de-sereia da riqueza rápida tem atrativo igualmente poderoso, mas é fundado em motivos diversos. Convenhamos: entre nós, ainda há um ranço escravocrata, latifundista e predatório. A idéia da riqueza rápida, da sorte-grande — mesmo que insustentável e ganha às custas dos outros — faz muito brasileiro revirar os olhinhos. A mentalidade empreendedora nacional, como creio, não tem ressonância religiosa; tem ressonância lotérica. É o sonho infantil de acertar nos números sonhados na véspera, etc. Mas voltemos às biografias dos nossos gurus.

Não ignoro que muitos conselhos ali contidos tenham algum valor motivacional para empresários perdidos ou confusos. Saber que temos irmãos-gêmeos de infortúnio mitiga nossa culpa pelo fracasso pessoal, e talvez renove nossa esperança na justiça do mundo. "Então, eu não sou o único que se ferra. Afinal, isso também aconteceu com eles." Eu também não nego que alguns livros — como os de Ramsey e os de Gerber (coluna à esquerda) — contenham conselhos realmente práticos e aplicáveis, baseados na experiência dos respectivos empresários. Mas quanto aos demais textos, salta aos olhos a banalidade, a trivialidade, o senso-comum crasso, além duns toques daquilo que eu chamo de esoterismo do vamos-que-vamos. Exemplo: tive a pachorra de ler os quatro volumes de Atitude, de Justin Herald (coluna à esquerda), apenas para descobrir, no final da série, que o grande segredo para o sucesso é... adivinhe: a nossa atitude!

Há, porém, um aspecto curioso que perpassa toda essa bibliografia de autoajuda: um aspecto que acredito não ter sido percebido pelo público consumidor desses livros. Analisando detidamente a história desses autores, percebe-se que muitos deles tiveram sucesso devido a circunstâncias nìtidamente adventícias, irrepetíveis, aleatórias, fortuitas ou colaterais. Em suma: sorte! Então, pretendendo justificar a posteriori seu próprio sucesso abrupto (ìntimamente visto como imerecido), esses gurus redigiram obras repletas daquilo que os psicólogos chamam de rationale e os sociólogos chamam de sociodicéia. Noutras palavras, são livros que o próprio autor escreveu para explicar — sobretudo para si-mesmo — seu sucesso repentino. São, noutras palavras, uma busca por sentido, um tapa-buraco no auto-engano do acaso. A dificuldade d' esses gurus reconhecerem a ação da sorte em suas próprias biografias torna-os inventores de històrietas de justificação. Na linguagem maquiavélica, a ênfase na virtù esconde a obra da fortuna.

Entrevistando empreendedores, eu pude notar a dificuldade que eles têm de dar um significado coerente a suas próprias trajetórias "profissionais" — quase-sempre erráticas, confusas, repletas de ziguezagues, avanços e retrocessos. A dificuldade vem do fato d'o empreendedorismo, afinal, não ser uma carreira ou profissão com etapas lógicas, como a de advogado, professor, militante ou grevista (sarcasmo!). Não há um sindicato ou associação de empreendedores; só de microempresários. Não se sabe onde se estará daqui a dois ou dez anos, devido aos riscos. E a mesma incerteza coloidal — que tanto atrai com a promessa de liberdade e realização essas criaturas hiperativas que empreendem — cria nelas, por outro lado, um desconforto por não saberem responder a perguntas simples, tais como: "¿o que você faz na vida? ¿como você veio parar nesse negócio? ¿o que o motivou a empreender?" Enfim: nessa área, boa parte da literatura de autoajuda, sob o pretexto sincero de motivar, serve apenas para dar um significado retrospectivo à trajetória dos próprios autores.

Até-mais-ver!

¿QUEM É JOHN GALT?

domingo, 18 de outubro de 2015

POSTAGEM-RELÂMPAGO 3


1- Administradores são pessoas que lidam com vàriáveis; mas empreendedores lidam com vàriáveis que são incógnitas; e o pior: são incógnitas que alteram os valores das outras incógnitas. Eis porque é tão difícil criar ferramentes de gestão para empreendedores. 

2- Nos primeiros estágios, sua empresa é como um paciente terminal: frágil e doente. Portanto, tente  monitorar todos os sinais vitais dele: o fluxo-de-caixa, o payback, o ponto-de-equilíbrio, a rentabilidade, o tempo e a taxa de retorno sobre o capital (ROI), etc.

3- Costuma-se dizer que os grandes empreendedores quebraram ao menos três vezes antes de terem sucesso. No contexto brasileiro, eu acrescentaria uma quarta ou quinta vezes, pondo-as na conta da nossa burocracia e da legislação tributária & trabalhista.

4- Ponha na cabeça uma coisa: no empreendedorismo, a única constante & certeza é a quebra. Somados os obstáculos culturais, econômicos e jurídicos do Brasil, empreender aqui é coisa para cabra-da-peste, filhote-do-tinhoso, sujeito-da-bexiga. ¿Entende?

5- Como toda aposta de risco, você nunca deverá investir mais de 50% das suas economias num empreendimento. Nunca! O capital deve ser acrescentado aos pouquinhos, mas o trabalho, os contatos e a informação devem ser acrescidas em doses cavalares. 

6- Seja curioso: não se deixe hipnotizar com os cases de sucesso; interesse-se sobretudo pelos cases de fracasso. Eles não são trompeteados pela mídia, mas o livrarão de reprisar as burradas alheias. Seja generoso: aprenda com sua quebra e ensine as outras pessoas.

7- Considere com carinho a hipótese de continuar empregado em meio-período e ser empreendedor apenas em meio-período. Dentro dos limites da ética profissional, vá usando seu atual emprego como casulo para a gestação da sua futura empresa. Economize e aprenda.

8- Como a quebra e o fracasso são duas constantes no empreendedorismo, você deve encará-los com naturalidade, mas preparando-se para eles. A regra é a seguinte: se é para quebrar, quebre no início do negócio, faça-o em doses pediátricas e aprenda com isso!

9- Ninguém se casa pensando na separação; e ninguém cria uma empresa pensando na falência. Mas no empreendedorismo, a falência é uma hipótese a ser considerada com sèriedade. De cada 100 empresas abertas no Brasil, só 47 sobrevivem aos três primeiros anos.

10- ¿Achou ruim? Pois espere mais três anos e verá que mais 17 empresas quebraram. Ou seja, das 100 empresas abertas em 2009, apenas 30 ainda estão funcionando em 2015. A falência foi de 70% em seis anos! Estes são dados do IBGE (2010) e do SEBRAE (2012). 

11- Não se trata da crise. É óbvio que ela piora os dados; mas o risco de quebra é uma característica estrutural do empreendedorismo e das microempresas. Portanto, antes de abrir seu negócio, tenha por escrito um detalhado plano de contingência para a falência.  

12- Determine nesse plano qual é o sinal de alerta para fechar as portas, quem deve ser pago primeiro e quem deve ser pago por último, o que oferecer como garantia, como lidar com os sócios, bancos, clientes, fornecedores, imòbiliárias e a porcaria do governo, etc.

13- Engula seu orgulho e feche ou venda sua empresa a tempo, antes da falência. No Brasil, a burocracia falimentar é muito maior que a papelada envolvida no ato de fechar uma empresa. Pelo-menos, um fechamento planejado livrá-lo-á de lidar com bancos. 

14- Falarei mais disso em momento oportuno, mas nunca financie sua empresa com empréstimos bancários; e nunca peça financiamento novo para tapar as brechas do financiamento antigo. Prefira beijar Satanás a ter de usar o limite do cheque-especial. Vade retro!

Até-mais-ver!
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