sábado, 9 de janeiro de 2016

CARTAS PARA JOVENS EMPREENDEDORES 3

São Bernardo do Campo, 9 de janeiro de 2016.


Presado (sic) Cássio,


¿Você já pulou de pára-quedas? Eu não; mas posso perfeitamente me colocar no lugar e entender o que se passa na cabeça de quem já tenha pulado. Ainda no avião, o oba-oba do piloto, dos amigos e do instrutor deve mandar galões de adrenalina direto para o seu sangue. O corpo inteiro responde e se prepara para a experiência mais significativa e emocionante da sua vida. A porta do avião se abre; abaixo, o abismo. A ventania quer sugar seu corpo para fora, e o entusiasmo também. Passam pela sua cabeça milhões de coisas que podem dar errado; mas, no equilíbrio entre a vontade e o cagaço, a vontade vence. Então você salta.

Milésimos de segundos após o salto, você pensa que aquela foi a besteira mais estúpida que você já fez na vida. Bate um arrependimento. Nesse exato segundo, você deve pensar: "¿Onde é que eu estava com a cabeça? Tudo bem: o avião não era a coisa mais segura do mundo; seguro mesmo é andar com os pés bem fixos no chão, e olhe lá! Mas saltar dum avião rumo no vazio! ¿Onde é que eu estava com a cabeça?" Mas daí você sente aquele volume que carrega nas costas -- o pára-quedas! -- e tenta se desligar um pouco dos riscos, para poder aproveitar a experiência. ¿E quer saber duma coisa? Aquilo é muito-muito-muito bom!

Sem compromisso, sem sèriedade, sem protocolo, sem segurança... Só você e a gravidade fazendo o servicinho sórdido. Fora isso, você está livre — delìciosamente livre, perigosamente livre, irresponsàvelmente livre. Há algo de tóxico nessa emoção, que você consome como um vìciado. Mas após alguns segundos divertidos encarando o abismo e a morte, volta-lhe a assombrar um pensamento sinistro: "¿mas e se o pára-quedas não abrir?" Com o perdão do trocadilho, a essa altura, você já deve ter atingido a velocidade terminal: a resistência do ar não permitirá que você caia mais depressa.  É só isso.


A coisa perde um pouco a graça; e é nessa hora que um visitante indesejado retorna: o medo. ¿Entendeu, Cássio, as entrelinhas? Você deve estar se perguntando aonde eu quero chegar. Veja só: você me mandou uma mensagem pedindo conselhos. Eu, como de costume, reparei na recorrência de algumas palavras; dentre elas, a conjunção 'se' apareceu vinte-e-nove vezes num texto de menos de mil caracteres. Mas eu senti falta duma palavra em especial — que você sonegou o quanto pôde. Falo da palavra 'medo'. Assuma, Cássio, você está com medo! Você está morrendo de medo; e é natural sentir medo.

É, meu caro... Eu falei do salto de pára-quedas porque sei que essa é uma experiência familiar para você, né? E deixa eu lhe contar uma coisa: a montanha-russa de emoções na cabeça dum saltador é a mesma que domina os pensamentos de quem empreende pela primeira vez. A seqüência é inclusive a mesma: a euforia inicial, a adrenalina da iniciativa, o milissegundo de arrependimento e, depois, a aquela maravilhosa sensação de liberdade — só azedada pelo medo. No caso, medo de perder dinheiro, medo de fracassar e ser humilhado, medo do sofrimento e da necessidade, medo de sentir medo, etc.

Enfim, Cássio: você está com medo. Você me pediu um conselho, e eu lhe respondo com um diagnóstico. Espero que você não me mande outra mensagem só para negar essa constatação óbvia. O escritório em que você trabalha hoje é o "avião seguro" do qual você não quer saltar. Acontece que não é você quem estrá pilotando esse avião, certo? Pelo menos, o salto para o vazio é você quem controla — tirando, é claro, as vàriáveis que, no exemplo que citei, representam a gravidade. O que você precisa decidir agora, meu caro, é se você fará do seu medo um radar que detecta riscos ou uma algema que o mantém preso.


Saudações terrícolas e silvícolas. Vida longa & próspera.


Fernando.

FRASES DA SEMANA 19


"ESTUDAR ENGENHARIA PARA VIRAR FUNCIONÁRIO PÚBLICO É O MESMO QUE ESTUDAR QUÍMICA PARA VIRAR HOMEOPATA OU ESTUDAR HISTÓRIA PARA VIRAR ESQUERDISTA PROFISSIONAL."

Doutor Enrico Furtado, ufólogo, exorcista e abalizado causídico.


"QUANDO O DONO DUM NEGÓCIO TRADICIONAL DIZ QUE ALGO DEVERIA SER PROIBIDO PELO ESTADO-BABÁ, O RESPONSÁVEL POR ESSE ALGO É, QUASE SEMPRE, UM EMPREENDEDOR."

Adolf Uber Alles, engenheiro de aplicativos, tàxista e cínico.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

DESAFIOZINHO 12

Pois é, bibelôs de estoque... Como diria a Simone, mais um ano termina e começa outra vez. ¿E quem nunca começou o ano com aquela carrada de desejos fajutos que, prometidos solenemente em janeiro, já se encontram totalmente avacalhados em fevereiro? Descumprir promessas revela muito sobre o caráter de quem as fez; mas as  promessas em si também contam muito sobre o íntimo do sujeito — seus anseios, angústias, nostalgias e esperanças. Vejam: ontem-mesmo eu lhes apresentei uma ferramenta (provisória) de classificação ou, melhor dizendo, de sondagem de perfis de personalidade empreendedora.  O objetivo dela é deixar um pouco mais visível — sobretudo ao próprio indivíduo analisado — que paixões o move e quais delas poderiam nortear seu projeto de carreira ou de negócio. 

Conforme essa ferramenta, seus sonhos podem se encaixar, grosso modo, em quatro categorias não-excludentes: 1) sociais, familiares, afetivos (por exemplo: construir uma família, fazer mais amigos, etc.); 2) culturais, educacionais, artísticos (por exemplo: escrever um romance; aprender a tocar um instrumento, descobrir uma cura, etc.); 3) econômicos, tecnológicos, matèriais (por exemplo: dirigir o carro dos sonhos, inventar algo legal, etc.) e 4) éticas, religiosas, estéticas (exemplos: emagrecer, adotar uma criança, alcançar a paz interior, fazer trabalho voluntário, etc.). Confesso que eu-mesmo não estou satisfeito com essas categorias; eu agradeço sugestões de mudança. A idéia por trás dessa ferramenta é simplesmente tornar claros e visíveis que propósitos orientariam o empreendedor e em que negócio ele teria, como diria Almir Sater, o dom de ser capaz e ser feliz.

Não, caro leitor mala: isso não é um teste vocacional de recursos humanos. Eu não estou querendo classificar e encaixotar os sonhos e os talentos das pessoas como se fossem livros numa mudança. A ferramenta — que eu chamei de tábua dos dez perfis — é apenas um exercício heurístico, um experimento de visualização. Eu já disse aqui várias vezes — e repetirei mais algumas — que o seu modelo-de-negócio ou mesmo o seu plano-de-carreira deve procurar um ponto de interseção entre aquilo que você gosta de fazer e é bom fazendo, dum lado, e aquilo que o mundo procura e está apto a pagar, do outro. E para encontrar esse ponto de interseção, antes-de-mais-nada, é preciso responder com seguinte pergunta: afinal, ¿o que eu quero da vida? E é por isso que nossa etapa prèliminar é a elaboração duma lista com tudo aquilo que gostaríamos de fazer antes de morrer.

Três coleguinhas toparam a brincadeira. Eles fizeram suas listas de sonhos e, sob a supervisão de um adúltero, foram colocando os pontinhos em suas tábuas, como se vê imagem a seguir. Lembrando que, quanto mais forte for o sonho para a pessoa, maior será o ponto com o qual ela representá-lo-á no diagrama. Ricardo é um perfil 1-4. No quadrante 1, o sonho que ele mais repetiu foi o de construir família. Mas várias outras coisas também foram colocadas no quadrante 4. Samanta tem o perfil 2-3. No quadrante 2, ela mencionou repetidamente seu desejo de aprender idiomas, mas não os idiomas que todos já falam. Ela também tem muita coisa no perfil 3. Por fim, Beatriz é um perfil 1-3. No quadrante 3, ela mencionou seu desejo de controlar suas finanças. Mas ela também tem uma constelação de pontinhos no quadrante 1. Temos, então, três pessoas com perfis bem diferentes. ¿Será?

Imagine antão que você é um consultor vocacional ou mentor de carreiras -- desses que adoram cagam-regras sobre a vida alheia e dão conselhos que não seguiriam. Imagine também que Ricardo, Samanta e Beatriz querem abrir o próprio negócio. Com base nas informações apresentadas, o desafio é o seguinte: 1) considerando apenas as informações que você tem da imagem abaixo, ¿qual seria o melhor negócio a ser aberto por cada uma dessas pessoas? 2) ¿Que inferências você teve de fazer para chegar a essa conclusão, tendo em vista que as informações sobre essas pessoas são incompletas e insuficientes? 3) Supondo que essas pessoas (todas ou ao menos duas) resolvam firmar uma sòciedade e criar uma única firma, ¿você acha que isso daria certo? Se sim, ¿quais dessas pessoas formariam a sòciedade mais promissora e trabalhariam melhor juntas? Se não, por quê?  


Que os jogos comecem!


quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

CAIXINHA DE FERRAMENTAS 10


Crianças... ah, crianças... Vocês podem me chamar de piegas & otário. Eu deixo! (Mentira! Não deixo não!) Mas eu acredito piamente nisto: um desafio, um negócio, um projeto, uma empresa devem ser a projeção externa daquilo em que seus criadores acrèditam; devem ser a expressão exterior dos seus valores mais profundos & sagrados. Não: isto não é esoterismo nem autoajuda. Quem me acompanha neste blog, sabe o quanto eu abomino essa patifaria. Portanto, ou eu estou sendo hipócrita (julguem os senhores), ou minha opinião é insuspeita de parcialidade. Digo-lhes então: um projeto-de-futuro deve ser a matèrialização, a exteriorização, a concretização das crenças do seu criador.

Permitam-me que eu me enforque na corda da sinceridade. Minha opção por estudar o empreendedorismo em sociologia — justo nesse templo sacrossanto do esquerdismo hidrofóbico — teve a-ver com a minha vontade de esgarçar os limites dessa disciplina, arrastando-a para áreas não-convencionais do interesse dos sociólogos. E também teve a-ver com os meus valores pessoais: acredito no livre-mercado, na livre-iniciativa, acredito no talento das pessoas, acredito nos indivíduos e me considero um aiatolá fanático, um jihadista homem-bomba da mèritocracia. E o principal: já passei por muitos lugares avessos a esses valores. Este bolg é o início da minha "vingança".

¿Por que eu estou dizendo isso? Digo isto porque a dúvida sobre que negócio abrir, sobre que projeto iniciar, muitas vezes, é tão angùstiante e paralisante quanto a dúvida sobre que profissão seguir, sobre que faculdade cursar. Acho que a ferramenta estratégica que mostrarei a seguir poderá ajudar um pouco essa decisão. Nos primeiros capítulos deste blog, aluás, eu dei algumas dicas sobre como tatear seus talentos e as demandas do mercado, procurando um ponto de intersecção entre 1) aquilo que você gosta de fazer e é bom fazendo e 2) aquilo que as pessoas precisam e, portanto, estão dispostas a pagar. Então, vamos colocar tudo-isso num diagrama que eu batizei de tábua dos dez perfis.

Em primeiro lugar, você deve fazer uma lista bem detalhada das coisas que gostaria de realizar antes de morrer. Nessa lista, você deve incluir metas: 1) sociais, familiares, afetivas; 2) culturais, educacionais, artísticas, 3) financeiras, materiais, tecnológicas e 4) éticas, religiosas, estéticas. Importante: seja brutalmente, mortalmente sincero consigo-mesmo; e não se preocupe em equilibrar a quantidade de metas em cada uma dessas quatro áreas. Agora imagine uma nuvem de pontos dispersos num gráfico, como um céu totalmente estrelado. Cada um desses pontos é uma meta que você deseja atingir antes de morrer. As metas mais bacanas brilham mais: são pontos maiores no gráfico. 

Agora imagine que, nesse gráfico de dispersão imaginário, uma reta seja traçada na média da distância de todos esses pontos, quer dizer, mesmo que essa reta não toque nenhum ponto específico, ela estará o mais próximo possível de todos os pontos, em especial, dos pontos mais fortes, que atrairão a reta para perto de si. ¿Parece difícil? Então, veja o exemplo abaixo. A idéia — e é disso que eu quero falar — é que seu negócio, seu projeto ou sabe-se lá o que você deseja fazer na vida, seja algo como essa reta média. Muitas pessoas trabalham numa área que está totalmente dissociada dos seus sonhos e valores. E eu suspeito que, antes de chegarem ao primeiro milhão, elas chegarão o primeiro AVC.

O espírito da coisa: um gráfico de dispersão.

O objetivo dessa ferramenta é que você reconheça em que quadrantes estão seus sonhos e, com isto, tente apròximar o máximo possível seu negócio ou projeto dele. Vamos então ao modelo. Como disse, eu o chamei de tábua dos dez perfis. Temos abaixo quatro áreas onde suas metas & sonhos poderão se encaixar. Já falei delas acima. Conforme você for adicionando pontos a essas áreas, segundo sua lista de metas, é provável que você perceba que uma ou duas áreas concentram a maioria dos pontos. Temos, então, quatro tipos puros (1- social-famìliar-afetivo; 2- cultura-educacional-artístico, 3- financeiro-metèrial-tecnológico, 4- ético-religioso-estético) e seis combinações possíveis entre eles.

Entendendo em quê perfil você se enquadra, será possível encontrar um projeto ou negócio mais afim com ele. Exemplo: suponhamos que seu diagrama esteja cheio de pontinhos robustos, distribuídos entre o quadrante 1 (social-familiar-afetivo) e o quadrante 3 (financeiro-matèrial-tecnológico). Então, ¿que tal você criar um site, rede social ou aplicativo para manter em contato parentes distantes ou perdidos? O exemplo é bobinho, mas você entendeu o espírito da bagaça. Antes de terminar, vai aqui um aviso: isto não é uma fórmula mágica do tipo teste vocacional. A decisão do que fazer na vida será sempre sua! Você é totalmente livre, perigosamente livre, humanamente livre. Ok?  

Até-mais-ver!

Tábua dos dez perfis (autoria própria).

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

DICA DE LEITURA 12


Pois é, coroinhas de missa-negra! ¿Como têm estado nesse estado-de-graça sem-graça? Deixa eu lhes fazer uma pergunta meio bíblica: ¿vocês sabem como os Davis vencem os Golias? Noutras palavras, ¿vocês sabem como as pequenas empresas iniciantes às vezes (eu disse: às vezes) aplicam belíssimos pontapés nas megalômanas corporações estabelecidas? ¿Não sabem? Pois o titio-aqui responde: elas se utilizam de estratégia, quer dizer, elas procuram travar batalhas não-convencionais, fundamentadas no disfarce e no embuste, explorando suas pequenas vantagens diferenciais e buscando vencer não pela força do leão, mas pela astúcia da raposa. Isso, repito, chama-se estratégia. Se Davi tivesse encarado Golias com escudo & espada (numa luta convencional), hoje, três civilizações monoteístas não existiriam. Davi, porém, usou uma pedra e uma funda (armas não-convencionais) para vencer Golias.

O bom estrategista é sujeitinho que, ciente da própria condição de fraqueza e desvantagem de suprimentos, evita o embate  direto, o corpo-a-corpo com seu oponente poderoso, procurando, em vez disso, cansá-lo no esconde-esconde, desgastar o moral da sua tropa, confundi-lo pelo saracoteio camuflado, infiltrá-lo com espiões, sabotadores e quintas-colunas, despistá-lo com propaganda, desinformação e vazamentos propòsitais. Enfim: a estratégia, como diria Sun Tzu, é a arte de vencer uma guerra sem precisar lutar. Pois muito que ótimo! Agora vejam: na luta entre as pequenas & atrevidas startups, dum lado, e as poderosas & arrogantes corporações, do outro lado, adivinhem quem é o Davi e quem é o Golias! Adivinhem, pois, quem dependerá mais da estratégia — astúcia, disfarce, embuste, àgilidade e esperteza — para vencer no mercado. Ganha um broche do PT quem disser: as startups!

O Capitão Nascimento — nosso grande herói reaça — tinha razão quando dizia que a palavra estratégia vinha do Grego: στρατηγία. Mas se ele tivesse lido o livro Estratégia: do planejamento à execução, teria ensinado a seus aspirantes fanfarrões algo mais que isso. Antes-de-mais-nada, deixem-me fazer duas confissões pessoais. Primeiro, a seção caixinha de ferramentas deste blog foi inspirada na sexta parte deste livro (pág. 201-257), em que MacKeown brinda-nos com uma bela série de ferramentas estratégicas apresentadas de modo gráfico e prático. Claro: nem todas ali são boas, mas vale-a-pena estudá-las com atenção. Segundo, admito que torci-o-nariz para esse livro no começo, porque, nas partes iniciais (pág. 17-66), o autor fica zanzando feito barata-tonta, dando definições acàcianas e vòmitando trivialidades sem ir direto ao tema. Mas a-partir da terceira parte, o livro deslancha e surpreende.

O livro em si é mal-escrito; a tradução tem alguns problemas; mas seu resultado compensa  por quatro motivos: 1) MacKeown têm sacadas gèniais, raciocina de maneira astuciosa, tem uma visão holista das coisas e demonstra ter uma experiência bem-refletida sobre o assunto. 2) A diagramação do livro é impecável e pedagógica, tornando-o um excelente guia de bolso, do tipo "pegue isso e faça assim". 3) O livro tem uma òrganização interna obsessiva (no bom sentido da palavra) — típica de quem sofre de TOC. Cada capítulo é curto e está separado por caixas-de-texto com resumos, tópicos de passo-a-passo, checklists de estratégia, parágrafos curtinhos com estudo de casos, listas de idéias relacionadas, seções com exemplos e armadilhas, etc. 4) Aliás, MacKeown não nos ensina apenas a como empregar cada estratégia; ele também adverte para os perigos de usá-las mal. Recomendo vivamente a leitura.


MACKEOWN, Max. "Estratégia: do planejamento à execução." São Paulo: HSM Editora, 2013. 272 páginas. R$ 34,90.


DEPOIMENTOS:

"Hoje, Davi venceria Golias e sua laia não com pedras e fundas, mas com urnas eletrônicas fraudadas e uma dúzia de ministros-compadres nos tribunais superiores."

Doutor Eleutério Deletério, abalizado causídico de reputação ilibadinha.


"A estrada da trégua é régia. Ó estratagema! Ó extraterrestre! Ó estratosfeta! A estrada vai do nada ao nada. Traste! O esterco é o estrume. Extra! Extra! Lacra treze!"

August of Fields, ex-intelectual, ocupante de sinecuras e poeta a-favor.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

POSTAGEM RELÂMPAGO 20


Adam Toren (@thebizguy)

Alex Osterwalder (@alexosterwalder)

Ali Brown (@alibrown)

Amy Cosper (@amyccosper)

Andrew Warner (@andrewwarner)

Anita Campbell (@smallbiztrends)

Barry Moltz (@barrymoltz)

Biz Stone (@biz)

Chris Brogan (@chrisbrogan)

Chris Guillebeau (@chrisguillebeau)

Dan Schawbel (@danschawbel)

Darren Rowse (@problogger)

Dave Morin (@davemorin)

Dave Ramsey (@daveramsey)

Derek Sivers (@sivers)

Donna Fenn (@donnafenn)

Eric Ries (@ericries)

Gary Vaynerchuk (@garyvee)

Guy Kawasaki (@guykawasaki)

Ingrid Vanderveldt (@ontheroadwithiv)

Jack Dorsey (@jack)

James Altucher (@jaltucher)

Jane McGonigal (@avantgame)

John Jantsch (@ducttape)

Keith Wyche (@keithwyche)

Kelly Lovell (@kellyalovell)

Kevin Rose (@kevinrose)

Liz Strauss (@lizstrauss)

Mark Babbitt (@marksbabbitt)

Mark Suster (@msuster)

Matthew Toren (@matthewtoren)

Melinda Emerson (@smallbizlady)

Michael Gerber (@michaelegerber)

Michelle Glover (@entreepreneurz)

Mike Michalowics (@mikemichalowicz)

Pamela Slim (@pamslim)

Pat Flynn (@patflynn)

Rieva Lesonsky (@rieva)

Robert Kiyrosaki (@therealkiyosaki)

Scott Gerber (@scottgerber)

Seth Godin (@thisissethsblog)

Shama Kabani (@shama)

Steve Blank (@sgblank)

Steve Strauss (@stevestrauss)

Ted Coiné (@tedcoine)

Terry St. Marie (@starbucker)

Tim Draper (@timdraper)

Tim Ferris (@tferriss)

Tony Hsieh (@tonyhsieh)

Tony Robbins (@tonyrobbins)

William Draper (@williamhdraper)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

CAPÍTULO 22: BOLA-DE-CRISTAL, JOGO DE BÚZIOS, CARTOMANTE E TEORIAS

Todos os modelos estão errados. Mas isso não impede que alguns realmente funcionem.


Olá, oferendas do réveillon devolvidas por Iemanjá! Curemos essa ressaca e voltemos ao trabalho. Proponho-lhes hoje uma pequena pausa no assunto que estávamos tratando. Quero falar de outro tema igualmente importante. Para isso, eu preciso revelar alguns podres do meu sórdido passado. Quando eu lecionava no Ensino Médio, todos os anos, nós, professores, éramos brindados com palestras maravilhosas & interessantes (cuidado: sarcasmo) sobre didática e disciplina, sobre como deveríamos trabalhar. Essas palestras eram ministradas por "educadores" com vários títulos, ostentados como medalhas de generais sem batalha, quer dizer, pessoas que nunca tinham posto suas patinhas catedráticas & acadêmicas numa sala-de-aula de verdade.  Aquilo soava como uma ofensa à platéia semidesperta de professores. ¿Mas fazer o quê?

O mais curioso dessas sessões de tortura auditiva era que, todo ano, quase que na mesma freqüência & sincronia de lançamento das mùsiquinhas carnavalescas, eram inventados novos melôs pedagógicos. Num ano, a moda era "ensinar para a cidadania". No outro ano, a febre era "educar para a inclusão". No ano seguinte, a onda era "ensinar para o bem comum". Em todos os casos, nós, professores, continuávamos fazendo o que sempre fizemos. (O cinismo é o antidepressivo dos desencantados). A diferença era que o processo pedagógico ganharia, doravante, algum verniz ideológico indisfarçável — que ora pendia para o verde-chico-mendes, ora pendia para o vermelho-carlos-marques. A educação tornava-se um veículo de pregação ideológica, e oscilava conforme as pautas da esquerda reinante. A única constante era que, todo ano, surgia algum melô.

O motivo é o seguinte: assim como toda disciplina de humanas, a pedagogia não é uma "ciência exata" de resultados constantes e prèvisíveis, estando, portanto, sujeita ao ideário e ao subjetivismo ensandecido dos fregueses. Dizendo em poucas palavras, estamos no reino do vale-tudo, onde a soma de 2+2 dependerá não da aritmética, mas do partido político, sìndicato ou igrejinha de quem fizer a conta. Por causa disso, salvo raras & honrosas exceções (nas quais eu não incluo Paulo Freire), a pedagogia é um terrenho fértil para os encantadores-de-serpentes, os embusteiros, os charlatães e os vendedores de óleo-de-cobra. ¿Mas isso-tudo é culpa dos pedagogos & educadores? Apenas em parte. O diabo é que o processo pedagógico é tão afetado por vàriáveis externas, múltiplas e caóticas que, quando uma nova teoria fracassa, é sempre possível pôr a culpa nos astros. 

A essa altura do texto, o leitor já deve estar coçando a cabeça. "¿Aonde o Fernando quer me levar com essa conversa?" Calma, leitor. Sossega essa pitomba! O ponto aonde eu quero chegar é o seguinte: eu tenho notado que, no mundo do empreendedorismo e das microempresas, está acontecendo a mesma coisa que no campo da educação e da pedagogia: todo ano tem um melô novo; todo ano aparece um modelo mágico, uma nova bala-de-prata infalível que resolverá as dificuldades do empreendedor. Não é à toa: sendo o empreendedorismo um campo tão exposto às incertezas, o que não falta são tentativas criativas de detectá-las e neutralizá-las. As combinações parecem ser infinitas. E isso tem oferecido pasto verde àqueles nossos velhos amigos: os encantadores-de-serpentes, os embusteiros, os charlatães e os vendedores de óleo-de-cobra. 

O engraçado é que os gurus que prometem revolucionar as microempresas com seus melôs de gestão, padecem dum mal inverso ao dos pedagogos. Estes últimos, incluem em suas teorias todos os fatores humanos — os mais exóticos, os mais indóceis — e produzem como resultado um balaio-de-gatos sem noção. Depois, por meio dum contorcionismo interpretativo, qualquer resultado desse vale-tudo é crèditado à sapiência do educador-de-gabinete. Por outro lado — e aqui eu chego ao ponto — os gurus da gestão tentam eliminar dos seus modelos todas as vàriáveis humanas, criando teorias pasteurizadas e robóticas que, tirando as pessoas, funcionariam perfeitamente. Seus modelos são como essas casas de revista, decoradas com extremo requinte, mas nas quais não podem entrar animais, crianças, visitas e... moradores — que é para não estragar a arrumação.

É com esses modelinhos robòtizados que são criados cursos, consultorias, pùblicações e carreiras estelares. É só seguir o passo-a-passo e o sucesso é garantido. Passo 1: ignore que você trabalha com pessoas humanas; todos agora são meras engrenagens duma máquina de moer gente. Passo 2: jogue para fora da equação a sociedade, o ecossistema e o contexto político-cultural em que sua empresa está inserida. Passo 3: faça-de-conta que seus clientes & sócios, seus funcionários & fornecedores são robôs lesados desprovidos de liberdade, vontade e consciência. Passo 4: aplique robòticamente minha receita-de-miojo administrativa. Passo 5: se nada der certo, repita todos os passos de acima até sua empresa quebrar. Passo 6: antes de quebrar, pague por minha consultoria estratégica infalível & cheirosa. Passo 7: prepare o bolso para o próximo melô que sairá no carnaval.

Muitos estudantes de engenharia e administração elaboram suas monografias assim: pegue o modelo, aplique-o cegamente e ninguém sairá machucado, desde que todos os fatores humanos sejam ignorados. Mas o problema — ah, o problema! — é que as vàriáveis humanas recalcadas voltam piores, batem à porta e entram doidas para sabotar seu modelinho perfeitinho. E elas sempre fazem estrago. Afinal, você não imaginava que a peãozada da fábrica iria bolar uma operação corpo-mole para ferrar com seu colorido kanban, né? Você também não levou em conta a curva-de-aprendizado dos funcionários recém-contratados quando implantou seu fantástico 6 Sigma, né? E deixa eu lhe contar um segredo: ¿sabe aquele plano-de-metas que você bolou? É... ele vai ser sabotado e arruìnado por aquilo que Weber chamava de "muralha do costume". Aguarde.

Recapitulando: a administração, assim como a pedagogia, está passando por uma febre de melôs, de modinhas de gestão de empresas. A diferença é que os modelos propostos por ela tendem a ignorar as vàriáveis humanas, o contexto político-cultural, a sociedade... enfim: tudo-aquilo que voltará com força total para sabotar e arruìnar esses mesmos modelos. E agora você, leitor, novamente coça a cabecinha e pergunta: "Então, ¿por que devemos estudar administração, se os modelos não funcionam?" Calma, leitor! Sossega essa pitomba! Eu não disse que os modelinhos não funcionam; eu só disse que eles estão todos errados e, quando funcionam, é por motivos que o próprio modelo se esforçou para desprezar. Dentre essas razões de sucesso imprevisto, estão a liderança, a persuasão e a empatia, a cultura da empresa... ¿E o que são esses senão fatores humanos?

Não é à toa que, num momento de explosão dos modelos quadrados, os livros de gestão mais vendidos falem justamente de liderança, empatia, persuasão, motivação, negòciação — assuntos com uma fortíssima carga psicológica, sociológica e "fora da caixa". De certa forma, o mercado de gurus de gestão alimenta-se do próprio fracasso: dum lado, oferece estratégias inumanas que certamente fracassarão. Do outro lado, vem com uma suposta solução para isso: baboseira de autoajuda destinada a aliviar os medos e acalmar as angústias das pessoas que foram trituradas pelos modelinhos do outro grupo. ¿Entenderam o esquema? Eu penso que modelos de gestão são ferramentas poderosas quando estão à serviço duma visão ampla e social da coisa. Caso contrário, eles têm mesma a eficácia do horóscopo. E até relógio parado acerta a hora duas vezes por dia.

Até-mais-ver!

¿QUEM É JOHN GALT?

domingo, 3 de janeiro de 2016

EMPREENDEDORISMO DE 'A' A 'Z'


Benchmarking. s. m. do Inglês, referencial. 1. Pesquisa das melhores práticas e referenciais de excelência. Cf. qualidade. 2. Ferramenta de comparação e avaliação de desempenho duma empresa em relação às líderes do mercado, concorrentes diretas ou que atuam em segmentos diferentes. 3. Trata-se do processo de pesquisa e orientação estratégica visando a melhoria da qualidade, por meio do qual uma empresa levanta e estuda as líderes do setor, com vistas a descobrir (e depois copiar) suas vantagens competitivas em relação ao próprio produto ou serviço. Cf. catching-up. 4. Técnica de gestão da inovação que busca absorver as melhores práticas vigentes em determinada área da administração, baseando-se nos seguintes passos: a) detecção das empresas líderes, b) pesquisa das melhores práticas, c) aprendizado e d) adaptação e implantação. Cf. engenharia reversa. 5. Ferramenta estratégica cujo objetivo é, ou adequar os produtos e serviços duma nova empresa aos melhores padrões já atingidos pelas líderes estabelecidas, ou diferenciar de-propósito seus produtos e serviços para se posicionar melhor no  mercado, em busca de nichos ou dum público não-atendido. Cf. oceano azul.
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